Negro
como a noite é negra, sem a brancura da podridão. Hoje Joaquim Barbosa luta contra a corrupção
em um Supremo apequenado pela devassidão.
Antes, Cruz e Sousa, promotor em Laguna, afastado pela
incompreensão. Negro, mesmo “escovado”,
deve estar fora da legislação. Assim
determina o mensalão.
Ontem mataram um
promotor que renasceu poeta. Hoje atacam
o acusador, em brocardo desamor, declarando seu pendor:
Sententia facit de albo
nigrum, de quadrato rotundum
(*).
E
os soluços graves, dos violões suaves, relembram o passado, magoado em ais de
dor.
Contorções
de açoites fundiram, em Barbosa, a poesia de Verlaine à cruz de Sousa, nestas
trêmulas, extremas, agressões supremas.
Se, por pequenos passos,
caminhamos pela vida e para a morte, aqui lutamos para a liberdade e aurora
transparente de um novo dia.
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Notas
e Observações
Prosa poética com fragmentos
intertextuais da Poesia da Negritude e
dos poemas Chanson d’Automne de
Verlaine e Violões que Choram de Cruz
e Sousa.
Os Poetas
da Negritude procuravam novos significantes para o significado de palavras
como “negro”, associada à podridão e também outros que humilhavam a cor de sua
pele. Aqui, por exemplo, uso “brancura”
como “podridão”, associada à cor de tecidos em decomposição por fungos (ver Anthologie de la Nouvelle Poésie Nègre et
Malgache, Léopold Sedar Senghor – Presses Universitaires, 1948 ou Reflexões Sobre o Racismo, Jean-Paul Sartre
– Divisão Européia do Livro, 1963).
João da Cruz e Sousa (1861-1898), filho
de escravos alforriados, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Em 1884, nomeado promotor em Laguna, foi
impedido de tomar posse e sua nomeação impugnada pelos chefes políticos locais
em razão de sua cor negra (ver Apresentação
da Poesia Brasileira, Manuel Bandeira).
(*)
A
sentença faz do branco preto e do quadrado redondo.
Do
livro “Memória, História e Imaginação”
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