No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Dilma em seu lamaçal: Poderes da República "Contaminados"


A Vala é Lama a Cama da Dama.

O Exército Brasileiro transformado em Milícia Eleitoral.
Favela da Maré no Rio de Janeiro,
 área do Pezão.

Estes são os parlamentares que aprovaram a "anistia" de Dilma por crime de fraude fiscal em troca de dinheiro. Livraram a "presidenta" do crime de responsabilidade  e "ferraram" os brasileiros que trabalham honestamente e pagam impostos desviados para a corrupção. 


PCdoB
Alice Portugal BA Sim
Assis Melo RS Sim
Chico Lopes CE Sim
Daniel Almeida BA Sim
Evandro Milhomen AP Sim
Gustavo Petta SP Sim
Jandira Feghali RJ Sim
Jô Moraes MG Sim
João Ananias CE Sim
Luciana Santos PE Sim
Manuela D`Ávila RS Sim
Osmar Júnior PI Sim
Perpétua Almeida AC Sim

PDT
André Figueiredo CE Sim
Damião Feliciano PB Sim
Félix Mendonça Júnior BA Sim
Flávia Morais GO Sim
Giovani Cherini RS Sim
Giovanni Queiroz PA Sim
Marcelo Matos RJ Sim
Marcos Rogério RO Sim
Oziel Oliveira BA Sim
Paulo Rubem Santiago PE Sim
Subtenente Gonzaga MG Sim
Sueli Vidigal ES Sim
Weverton Rocha MA Sim
Wolney Queiroz PE Sim

PMDB
Akira Otsubo MS Sim
Alberto Filho MA Sim
Alexandre Santos RJ Sim
André Zacharow PR Sim
Camilo Cola ES Sim
Carlos Bezerra MT Sim
Celso Maldaner SC Sim
Edinho Araújo SP Sim
Edio Lopes RR Sim
Eduardo Cunha RJ Sim
Fabio Reis SE Sim
Flaviano Melo AC Sim
Geraldo Resende MS Sim
Henrique Eduardo Alves RN Sim
Hermes Parcianello PR Sim
Hugo Motta PB Sim
João Magalhães MG Sim
José Priante PA Sim
Júnior Coimbra TO Sim
Leandro Vilela GO Sim
Leonardo Picciani RJ Sim
Leonardo Quintão MG Sim
Manoel Junior PB Sim
Marcelo Castro PI Sim
Marinha Raupp RO Sim
Mário Feitoza CE Sim
Osmar Serraglio PR Sim
Pedro Chaves GO Sim
Pedro Paulo RJ Sim
Professor Setimo MA Sim
Renan Filho AL Sim
Rogério Peninha Mendonça SC Sim
Ronaldo Benedet SC Sim
Rose de Freitas ES Sim
Saraiva Felipe MG Sim
Washington Reis RJ Sim

PP
Aguinaldo Ribeiro PB Sim
Aline Corrêa SP Sim
Arthur Lira AL Sim
Betinho Rosado RN Sim
Carlos Magno RO Sim
Eduardo da Fonte PE Sim
Iracema Portella PI Sim
João Leão BA Sim
Lázaro Botelho TO Sim
Luiz Fernando Faria MG Sim
Nelson Meurer PR Sim
Roberto Britto BA Sim
Sandes Júnior GO Sim
Simão Sessim RJ Sim
Vilalba PE Sim
Vilson Covatti RS Sim
Waldir Maranhão MA Sim


PR
Aelton Freitas MG Sim
Anderson Ferreira PE Sim
Bernardo Santana de Vasconcellos MG Sim
Davi Alves Silva Júnior MA Sim
Dr. Adilson Soares RJ Sim
Francisco Floriano RJ Sim
João Carlos Bacelar BA Sim
João Maia RN Sim
Jorginho Mello SC Sim
José Rocha BA Sim
Luciano Castro RR Sim
Lúcio Vale PA Sim
Manuel Rosa Neca RJ Sim
Maurício Quintella Lessa AL Sim
Milton Monti SP Sim
Paulo Feijó RJ Sim
Paulo Freire SP Sim
Vinicius Gurgel AP Sim
Wellington Fagundes MT Sim
Wellington Roberto PB Sim
Zoinho RJ Sim

PRB
Antonio Bulhões SP Sim
César Halum TO Sim
Cleber Verde MA Sim
George Hilton MG Sim
Jhonatan de Jesus RR Sim
Márcio Marinho BA Sim
Otoniel Lima SP Sim
Vitor Paulo RJ Sim

PROS
Antonio Balhmann CE Sim
Ariosto Holanda CE Sim
Domingos Neto CE Sim
Dr. Jorge Silva ES Sim
Dudimar Paxiuba PA Sim
Givaldo Carimbão AL Sim
Hugo Leal RJ Sim
José Augusto Maia PE Sim
Ronaldo Fonseca DF Sim
Valtenir Pereira MT Sim
Vicente Arruda CE Sim

PRP
Chico das Verduras RR Sim
Jânio Natal BA Sim

PSB
Glauber Braga RJ Sim

PSC
Andre Moura SE Sim
Antônia Lúcia AC Sim
Silvio Costa PE Sim
PSD
Átila Lins AM Sim
Diego Andrade MG Sim
Edson Pimenta BA Sim
Eduardo Sciarra PR Sim
Eliene Lima MT Sim
Fábio Faria RN Sim
Felipe Bornier RJ Sim
Guilherme Campos SP Sim
Hugo Napoleão PI Sim
Jefferson Campos SP Sim
José Carlos Araújo BA Sim
José Nunes BA Sim
Júlio Cesar PI Sim
Manoel Salviano CE Sim
Moreira Mendes RO Sim
Onofre Santo Agostini SC Sim
Paulo Magalhães BA Sim
Roberto Dorner MT Sim
Roberto Santiago SP Sim
Sérgio Brito BA Sim
Silas Câmara AM Sim

PSOL
Chico Alencar RJ Sim
Ivan Valente SP Sim

PT
Afonso Florence BA Sim
Alessandro Molon RJ Sim
Amauri Teixeira BA Sim
Anselmo de Jesus RO Sim
Assis Carvalho PI Sim
Assis do Couto PR Sim
Beto Faro PA Sim
Biffi MS Sim
Bohn Gass RS Sim
Dalva Figueiredo AP Sim
Décio Lima SC Sim
Devanir Ribeiro SP Sim
Dr. Rosinha PR Sim
Edson Santos RJ Sim
Erika Kokay DF Sim
Eudes Xavier CE Sim
Fátima Bezerra RN Sim
Fernando Ferro PE Sim
Francisco Chagas SP Sim
Francisco de Assis SC Sim
Francisco Praciano AM Sim
Gabriel Guimarães MG Sim
Helcio Silva SP Sim
Henrique Fontana RS Sim
Iara Bernardi SP Sim
Iriny Lopes ES Sim
Janete Rocha Pietá SP Sim
Jesus Rodrigues PI Sim
João Paulo Lima PE Sim
Jorge Bittar RJ Sim
José Airton CE Sim
José Guimarães CE Sim
José Mentor SP Sim
Leonardo Monteiro MG Sim
Luci Choinacki SC Sim
Luiz Alberto BA Sim
Luiz Couto PB Sim
Luiz Sérgio RJ Sim
Magela DF Sim
Márcio Macêdo SE Sim
Marcon RS Sim
Margarida Salomão MG Sim
Maria do Rosário RS Sim
Miriquinho Batista PA Sim
Newton Lima SP Sim
Nilmário Miranda MG Sim
Odair Cunha MG Sim
Padre João MG Sim
Padre Ton RO Sim
Paulão AL Sim
Paulo Pimenta RS Sim
Paulo Teixeira SP Sim
Pedro Eugênio PE Sim
Pepe Vargas RS Sim
Policarpo DF Sim
Reginaldo Lopes MG Sim
Renato Simões SP Sim
Rogério Carvalho SE Sim
Ronaldo Zulke RS Sim
Ságuas Moraes MT Sim
Sibá Machado AC Sim
Taumaturgo Lima AC Sim
Valmir Assunção BA Sim
Vander Loubet MS Sim
Vanderlei Siraque SP Sim
Vicente Candido SP Sim
Vicentinho SP Sim
Waldenor Pereira BA Sim
Weliton Prado MG Sim
Zé Geraldo PA Sim
Zeca Dirceu PR Sim

PTB
Alex Canziani PR Sim
Antonio Brito BA Sim
Arnon Bezerra CE Sim
Jorge Côrte Real PE Sim
José Chaves PE Sim
Jovair Arantes GO Sim
Luiz Carlos Busato RS Sim
Nelson Marquezelli SP Sim
Nilton Capixaba RO Sim
Paes Landim PI Sim
Sabino Castelo Branco AM Sim
Walney Rocha RJ Sim
Wilson Filho PB Sim

PTdoB
Lourival Mendes MA Sim

PV
Fábio Ramalho MG Sim
Paulo Wagner RN Sim

Solidariedade
Benjamin Maranhão PB Sim
Berinho Bantim RR Sim
Wladimir Costa PA Sim

Enquanto isto o Supremo Tribunal Federal esconde da Sociedade Brasileira os nomes destes criminosos que tomarão posse em breve, para serem acoitados pelo foro privilegiado e o segredo de justiça. Não esquecendo do ministro Teori Zavascki que depois de  ameaçar um juiz honesto e confessar que decidiu sem ler o processo, continua afrontando os brasileiros soltando criminosos, impedindo o cumprimento da Justiça!
Ler mais AQUI.

Lembramos também, que no dia 10 de dezembro, a Comissão da Verdade entrega o seu relatório para Dilma, que apoia um estado de Violência, Morte e Tortura no Rio de Janeiro junto com seus aliados, os Cabrais, Crivellas  e Pezões da vida. Na foto abaixo mostramos um flagrante desta violência, que são soldados de nossas forças armadas indo depor sobre o assassinato de um "suspeito",  invadindo a Delegacia Policial armados até os dentes. Verdadeiro desrespeito à Lei e Ordem!



  

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quiasma da Periferia



Moro na Favela
Favela agora é Comunidade.

Aqui tem UPP
Flupp para aliviar.

Ideologia pra enganar
polícia pra matar.

Miséria da política
política da miséria.

Na Comunidade tem bandido.
bandido oficial.

Tem trabalhador
otário social.

Tem também bandidagem ilegal
fruto do crescimento populacional.

Aqui vem muito intelectual
para olhar calar e faturar.

Dizem que minha rima é pobre
pobre como minha vida podre.

Mas você nem sabe o que é quiasma
se quiser saber vai ralar
vai no Aurélio catar.

O Capenga espalha por aí
que sou lumpen-proletariado.
Respondi que ele é veado
eu aqui a cantar
Capenga na vala a morar.

Na Comunidade tudo paga
otário bandido traficante
e até mulher de viração
pedágio pra subornar.

Pacificação é ação
é só sofrer na propina pro poder.

Sobrevivo na coluna do meio
de um lado polícia e bandido
do outro otário trabalhador.

Hoje vai liberar geral
tem baile na Comunidade.

Cocaína maconha
white brown.

Bermuda larga pra sacar
sem calcinha sainha curta pra facilitar.

Romantismo no escurinho
música pra futucar
melação pra dançar.

No trenzinho fica esperto
pra engatar e não levar.

Bye bye
hoje vou vasar
vou pra Flip azarar.

Muita Preparada
no fundo tudo Cachorra.

Cachorra pra lamber
mulher pra comer.

E aqui vou dando meus finalmentes
agora sou agente cultural
sempre na mídia global.

Alma é Lama
Lama é Alma
quatro letras
no seu embaralhado ver
duas palavras
no seu contrário ser.


Notas:
UPP – Unidade de Polícia Pacificadora do Estado do Rio de Janeiro.
Flip – Feira Internacional de Literatura de Paraty.
Flupp – Feira de Literatura das Unidades de Polícia Pacificadora.
Apoio O Globo, patrocínio Ministério da Cultura, Governo do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro, BNDS e Petrobrás.
Lumpen-proletariado “É o produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, podendo às vezes ser arrastado ao movimento por uma revolução proletariada.  Todavia suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação.”  Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels.  Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara.  Brasil, 1963. 
Ir para a vala – Ser morto
Otário – Trabalhador honesto.
Mulher de viração – Prostituta que trabalha de modo independente, sem protetor, não pagando comissões.
Melação – Momento em que nos bailes populares são tocadas músicas lentas, à meia luz, para os casais terem mais “intimidades”.
Trenzinho – Grande roda que circula dançando e cantando quando, na escuridão, tudo é permitido.
Preparada – Mulher que sobrevive porque sabe das “coisas”.

Cachorra – Mulher que sobrevive porque faz e tolera “tudo”.

domingo, 23 de novembro de 2014

O Sangue Seca


                    Este artigo foi publicado em 2011 no Montbläat.  Agora estamos republicando-o com o fac símile da entrevista com Pablo Neruda que foi citada. 
          Foi feita também uma revisão, sendo o artigo reescrito dentro do espírito de um gênero entre a crônica e um ensaio literário sobre a Luta e o Martírio pela Liberdade.


          Com a morte de Ernesto Sabato (1911-2011) o Mundo ficou menor.  Cresceram os “intelectuais” que só sobrevivem à sombra do poder.  Diminuiu o número daqueles que são as testemunhas, os mártires de uma época.  Como uma homenagem a este Ernesto, republico o artigo abaixo, lembrando tantos outros que estranharam este mundo de violências e injustiças.  Uns com a força e beleza das palavras, da poesia.  Outros com o sangue da própria vida.

          Que importa o lugar em que a morte nos surpreenderá: que ela seja bem vinda, se nosso grito de guerra for ouvido, se outra mão se erguer para empunhar nossas armas e se outros homens se levantarem para entoar os cantos fúnebres, sobre o crepitar das metralhadoras e dos novos gritos de guerra e de vitória.

          A frase acima encerra o documento intitulado Criar dois, três ... vários Vietnames, eis a palavra de ordem, enviado por Ernesto Che Guevara ao Secretário-Executivo da Organização de Solidariedade dos Povos da África, da Ásia e da América Latina e que foi divulgado em 16 de abril de 1967.  Podemos dizer que este documento sintetizava as grandes esperanças de criarmos um mundo mais justo e progressista na face da terra, mesmo à custa irreparável da morte e perda de grandes talentos de uma juventude idealista.  Nessa época Guevara lutava liderando um pequeno grupo de guerrilheiros na Bolívia e poucos meses depois, em 8 de outubro de 1967, foi preso e executado barbaramente no dia seguinte, encerrando a sua existência aos 39 anos de idade.  O dia a dia de sua luta na Bolívia ficou registrado no chamado Diário de Che Guevara.  A leitura destes documentos é importante para compreendermos a personalidade do líder guerrilheiro, atualmente tão vilipendiado por certa imprensa.
Os jovens que se encantaram e emocionaram com a candura e espírito de solidariedade humana de Guevara, mostrados no filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles, deveriam ler os documentos acima e ver que uma sólida ideologia e princípios éticos podem manter-nos jovens e idealistas por toda vidaEm seus diários Che deixa registrado não os seus errosum dos quais foi acreditar que podia salvar um povo com uma cultura diferente, nem sequer falando espanhol, pois falavam quéchua, aymara ou guarani –, como mostra a sua aceitação fatalista desta gente simples, que não o compreendia e não o aceitava, delatando-o, traindo-o e vendendo as vidas dos jovens e idealistas guerrilheiros ao exército boliviano, que era a mesma força de repressão que massacrava esses índios a serviço de companhias multinacionaisMas Guevara estoicamente aceitava essa realidade, negando-se a agir, por exemplo, como as hordas petistas que atacaram violentamente os “descamisados” de Collor – hoje aliado de Dilma –, diante da então derrota eleitoral de Lula para aquele outrora chamado caçador de marajás.  E agora, com o petismo no poder, parecem procurar uma vingança eterna, mantendo uma população analfabeta, sofrendo nas filas dos postos médicos e sob o jugo da criminalidade, mas fanatizados pelo populismo que os transformou em bons eleitores e passiva carneirada desta nova direita. 


Feira de Sacsili,  Equador.  Foto T.Abritta, 2000.

          Nesta década, os anos 60, pipocaram pelo mundo afora vários movimentos democráticos e progressistas que foram exterminados com extrema violência, desaguando neste mundo horroroso em que vivemos atualmente.  Na tão sofrida África, no pobre Zaire dos dias de hoje houve uma eleição democrática após a emancipação do Congo Belga.  Mas o Primeiro Ministro eleito, Patrício Lumumba, acabou assassinado e os “civilizados” europeus e belgas, enviaram uma tropa de seis mil monstros para espalhar a violência, a título de defender inconfessáveis interesses econômicosEntretanto o patriotismo falou mais alto, eclodindo nestas paragens um dos mais belos movimentos revolucionários, que unia as tradições tribais à modernidade de jovens intelectuais africanos, que terminavam seus doutorados em grandes universidades européias como a Sorbonne (aquela tão invejada e execrada por Lula).  Havia intelectuais como Gaston Soumialot e Pierre Mulele que se uniam aos Simbas – que em Swahili significa leõespara combater pela causa comum que era a liberdade.  Os Simbas eram guerreiros imortais que podiam ser abatidos momentaneamente, mas sempre ressuscitavam para defender suas famílias, sua cultura e seu paísMas toda esta poesia do movimento não resistiu a um grande massacre promovido por um conluio da Bélgica, que enviou um grupo de pára-quedistas, dos Estados Unidos, que enviou aviões pilotados por mercenários cubanos e das colunas de mercenários comandadas pelo coronel Lamouline.  Ah, estes nomes e fatos não deveriam ser apagados da História.  A repressão não poupou ninguém, Pierre Mulele, que era o Ministro da Educação do governo revolucionário, morreu sob torturas, tendo seus olhos arrancados das órbitas, seus lábios dilacerados por alicate e seus órgãos sexuais decepados, morrendo lentamente com a perda de sangue.
          Mas massacres piores aconteceram.  A Indonésia nesta época era uma grande esperança de democracia e desenvolvimento humano, sob a liderança de Sukarno, um dos líderes do terceiro mundoMas as forças do atraso reagiram rápido e promoveram um massacre, que resultou em 700 mil mortos, inclusive crianças, pois a súcia de direita dizia que não podia deixar sementes de futuros comunistasTudo começou com uma carnificina de origem política, para terminar em uma loucura coletiva onde cabeças eram usadas como marcos da quilometragem das estradas, que para os muçulmanos esta seria uma punição além das fronteiras da morte, pois não poderiam entrar no Paraíso de Alá sem suas cabeçasAinda com os rios tingidos de sangue, o Japão saudou o novo governo de Jacarta e os dirigentes britânicos e americanos congratularam-se, alegando que nada era mais reconfortante para os países ocidentais do que ver o segundo produtor mundial de borracha e quarto produtor de arroz e de estanho renovar tradicionais laços de amizade e comércio, pois nas mãos dos novos chefes de Estado o sangue, decididamente, seca rápido.
          Com esses exemplos de extrema violência, marcados pela morte de Che Guevara, há quarenta anos, devemos olhar o mundo de hoje e não aceitar a banalização da violência e do terrorismo de Estado promovido por grandes NaçõesAfinal de conta muitos daqueles que viviam e sofriam na década de sessenta, não se abatiam diante dos retrocessos históricos, sempre mostrando esperançaNos Estados Unidos a violência racial da Ku Klux Klan encontrava resposta nos poemas de Langston Hughes, um dos bardos da Poesia da Negritude, que falava bem alto: Eu também canto a América.  No outro extremo deste continente americano, em Isla Negra, Pablo Neruda declarava em entrevista: ...outras cores existem no panorama do mundoQuem pode esquecer a cor do sangue humano derramado inutilmente no Vietname?  E a cor das aldeias queimadas pelo napalm?...São Domingos continua dividido, ultrajado e invadido.  ... estamos em janeiro de 1966.  Neste ano talvez eu consiga alcançar os sessenta e dois anos de minha vida e continuo acreditando na possibilidade do amor.  Tenho a certeza do entendimento geral entre os seres humanos, que se dará a despeito das dores, do sangue e dos cristais quebrados (*) perdoem-me se creio que, apesar de tudo, o mundo brilha infinitamente rosa, infinitamente azul.

(*) Pablo Neruda deu esta entrevista em sua residência em Isla Negra, Chile, após uma longa viagem por vários continentes, incluindo uma visita ao Rio de Janeiro.  Os cristais quebrados eram uma referência a um terremoto que causou grandes estragos em sua casa enquanto estava ausenteDurante a sua visita ao Rio de Janeiro, eu, com 19 anos de idade, tive a oportunidade de conhecê-lo na casa de um vizinho que o recepcionou discretamente, de modo a evitar a ira de nossa ditadura da época


Entrevista com Pablo Neruda, Folha da Semana, Fevereiro de 1966.



quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Poetas da Negritude


Intelectuais que não se vendiam ao poder
...e uma homenagem a Joaquim Barbosa.


E um poema de Countee Cullen traduzido por Ribeiro Couto e publicado na Antologia Poética, Henriqueta Lisboa, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro – 1961:



Ínfima Lhaneza, Suprema Mesquinhez

          Negro como a noite é negra, sem a brancura da podridão.  Hoje Joaquim Barbosa luta contra a corrupção em um Supremo apequenado pela devassidão.  Antes, Cruz e Sousa, promotor em Laguna, afastado pela incompreensão.  Negro, mesmo “escovado”, deve estar fora da legislação.  Assim determina o mensalão. 
Ontem mataram um promotor que renasceu poeta.  Hoje atacam o acusador, em brocardo desamor, declarando seu pendor:
Sententia facit de albo nigrum, de quadrato rotundum (*).
          E os soluços graves, dos violões suaves, relembram o passado, magoado em ais de dor.
          Contorções de açoites fundiram, em Barbosa, a poesia de Verlaine à cruz de Sousa, nestas trêmulas, extremas, agressões supremas. 
Se, por pequenos passos, caminhamos pela vida e para a morte, aqui lutamos para a liberdade e aurora transparente de um novo dia. 

Notas e Observações
          Prosa poética com fragmentos intertextuais da Poesia da Negritude e dos poemas Chanson d’Automne de Verlaine e Violões que Choram de Cruz e Sousa. 
          Os Poetas da Negritude procuravam novos significantes para o significado de palavras como “negro”, associada à podridão e também outros que humilhavam a cor de sua pele.  Aqui, por exemplo, uso “brancura” como “podridão”, associada à cor de tecidos em decomposição por fungos (ver Anthologie de la Nouvelle Poésie Nègre et Malgache, Léopold Sedar Senghor – Presses Universitaires, 1948 ou Reflexões Sobre o Racismo, Jean-Paul Sartre – Divisão Européia do Livro, 1963).
          João da Cruz e Sousa (1861-1898), filho de escravos alforriados, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis.  Em 1884, nomeado promotor em Laguna, foi impedido de tomar posse e sua nomeação impugnada pelos chefes políticos locais em razão de sua cor negra (ver Apresentação da Poesia Brasileira, Manuel Bandeira).
(*) A sentença faz do branco preto e do quadrado redondo.