No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Farsas e farsantes


          Diz a lenda, que quando Galileu convidou os clérigos “negacionistas” da realidade experimental para assistirem a um experimento, onde ele soltaria do alto da torre de Pisa, ao mesmo tempo, dois corpos de massas diferentes, provando que eles chegariam juntos ao solo, eles preferiram virar os rostos, a ver a realidade.  Em certo sentido, isto tem acontecido no Brasil, onde muitos que se auto intitulam de esquerda, sistematicamente votam unidos com a direita, quando se trata da defesa da transformação de nosso país em um “Império da Corrupção”, como mostra a tabela de votação (ver abaixo) na Câmara dos Deputados da PEC para amordaçar o Ministério Público.

          O mesmo aconteceu recentemente na votação do aumento do Fundo Partidário e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

          Esta é a realidade que muitos preferem não ver e seguir tal zumbis, defendendo o indefensável...



sexta-feira, 4 de junho de 2021

A China que eu vi


          Quando vejo a China lançando uma estação orbital, fazendo explorações no solo de Marte, fico pensando neste país que conheci há pouco menos de trinta anos. 

          Lá estive em julho de 1992 em pleno verão.  Grandes cidades, como Xangai, eram constituídas de casas simples, mas tudo limpo e organizado.  Pelas manhãs eu ficava admirado em ver da janela do hotel uma multidão de pessoas praticando tai chi chuan.  Para mim, aqueles movimentos coordenados eram a chave do progresso deste povo: união, organização e educação. 

          Nas largas e imponentes avenidas de Pequim poucos carros circulavam em meio às bicicletas. 

          Quando encerrava o trabalho nas indústrias, uma massa compacta de bicicletas tomava as ruas.  Mesmo as operárias, se vestiam com roupas de seda, o que as tornava ainda mais belas.  Lá iam para casa, pedalando suas bicicletas, prendendo as saias com pregadores de roupa para não deixar que voassem, exibindo suas pernas e um pouquinho mais. 

          Via-se poucos visitantes estrangeiros, mas Pequim e suas atrações era invadida por uma massa de turistas chineses – vindos de cidades do interior – que aproveitavam as férias de verão e a melhora do nível de vida para conhecerem seu país. 

          Hoje, neste mundo globalizado, seria impensável conhecer alguém que nunca havia visto uma pessoa com o tipo físico como o da Cristina, minha mulher (ver fotos abaixo).

          Em meio à multidão que visitava a Muralha da China, Cristina era disputada como se fosse um ser de outro planeta. Todos pediam para tirar fotografias com ela. 

          Era um gigantesco mundo pequeno...






 

sábado, 27 de março de 2021

Cultura Rural


O “quebra corpo” é uma passagem, normalmente encontrada em cercas de propriedades rurais, que impede o trânsito de animais, mas permite que pessoas possam atravessar para o outro lado (ver foto abaixo). Além de ser conhecida como “quebra corpo”, esta estrutura também possui outras denominações como, “quebra costela”, “passa um”, “passador” e “imbricação”. Ao atravessá-la, as pessoas são obrigadas a fazer um pequeno desvio, um “jogo de corpo” em forma de semicírculo, para cruzar para o outro lado. Vem daí tantas ocorrências com a palavra “quebra”.

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quinta-feira, 25 de março de 2021

As Plêiades

 

          Revendo velhas fotografias, lembrei-me da visão noturna de um céu estrelado, onde as Plêiades brilhavam (ver figura abaixo) como nunca. Fiquei pensando na universalidade das reações humanas diante da natureza. No caso das Plêiades, várias culturas têm lendas parecidas. No Pantanal, reproduzo a origem da lenda destas estrelas, através do texto abaixo de Manuel Cavalcanti Proença, tirado do seu livro Manuscrito Holandês, onde narra a saga do anti-herói Mitavaí.

 

          “O caboclo aguardou o sono. Pelo rio, sete canoinhas vinham descendo a correnteza.  E subindo a noite. Em cada embarcação, uma garça branca trazendo na cabeça guirlanda de foguinhos da lua cheia. Iluminado o silêncio aos sons da cantilena de Mitavaí, escoavam afluentes e esperanças. Na madrugada, o verde soprando o vento a embalar a mata. Sete garças. Sete luas. Sete estrelas.

          Defronte do porto fizeram ciranda, numa reverência, e depois foram ficando leves, subindo.  Debaixo, parecia balão de Santo Antônio enfeitado de lanterninhas. Chegaram no céu e se arrumaram com cuidado perto do chifre do Touro.

          Desde esse dia o setestrelo ficou expiando para nós.”

 

Na mitologia grega, as Plêiades eram filhas de Atlas e Pleione, filha do Oceano.  Quando Pleione estava passeando pela Beócia com suas sete filhas, foi perseguida pelo caçador Órion por sete anos. Júpiter, com com pena delas, apontou um caminho até as estrelas e elas formaram a cauda da constelação do Touro. 

As Pléiades são: Electra, Maia, Taigete, Alcione, Celeno, Asterope e Mérope



quinta-feira, 18 de março de 2021

Imaginação e Obsessão


          Não sei o que pode estar acontecendo.  Uma encomenda Sedex, Belo Horizonte-Rio, leva no máximo três dias para chegar.  Já faz uma semana.  Por aqui o correio não aparece há dois dias.  Bem, dizem que é a greve de ônibus. 

As aspas foram culpadas por tudo isto.  Quando ela escreveu que, além da Antologia, enviaria uma “coisinha” mineira que não era cachaça nem pão de queijo, começou a minha curiosidade.  Depois angústia, agora verdadeira obsessão.  As aspas davam um sentido conotativo que me intrigava.  Perdida a razão, pensamentos começam a ficar confusos, realidades são criadas.  A imaginação concretiza-se.

Mero símbolo linguístico-gráfico.  Mas tão significante. 

As aspas foram culpadas...

 

          Fui selecionada para a Antologia de Outono.  No lançamento, todos se reuniram no Parque, concertos de música clássica, coral e a leitura dos poemas.  Fui também escolhida para proferir as palavras de abertura.  Verdadeira maravilha a cerimônia. 

          Fiz um agradecimento para você, como parte das pessoas que me fizeram pensar a Literatura e usei nas minhas palavras suas sugestões que resultaram nos meus poemas:

          “Outono é uma estação do ano, marca no ritmo da Natureza.  Folhas secam, galhos nus, hora de recolhimento, de descanso para enfrentar as dificuldades da próxima estação.  Tempos de migração para milhares de aves que atravessam o Mundo com as mudanças do clima.”

          “Que tal um paralelo entre a vida e o ritmo da Natureza?”

          “Observe as árvores, arvore!”

          “Deixe os pensamentos ‘migrarem’, invadirem seu íntimo, traírem seus segredos!”

 

          Agradecida, seguem fotos em anexo.

 

          Seria apena mero registro visual de uma cerimônia campestre-literária-festiva.  Mas havia as aspas da “coisinha” e o caráter conotativo.  As imagens certamente traziam significados ocultos.  Ampliei-as em uma grande tela de computador, esmiuçando cada detalhe.         Não a imaginava tão jovem.  Que idade teria?  Entre quarenta e cinquenta?  Não sei.  Prefiro dizer: jovem senhora de idade indefinida. 

          Era muito bonita.  Longos cabelos negros, cintura fina, insinuantes sinuosas curvas.  A elegância do vestir valorizava o corpo.  Casaquinho de veludo claro com textura e talhe fashion.  Bolsa de design a tiracolo.  Blusa cintada com fiapos nas bordas – pequeno toque de informalidade.  Longa saia justa indo até os pés, feita de um tecido que delineava o corpo. 

          Estas definições de “cenários” pelo menos me distraíam, atraíam, fazendo-me esquecer um pouco da “coisinha” que a qualquer hora bateria na porta.

          As observações trouxeram-me lembranças de Proust:

 

          “Aquela fotografia era como um encontro a mais acrescentado aos que já tivera com a Senhora Duquesa de Guermantes.  Melhor ainda, um encontro prolongado, como se num brusco progresso em nossas relações, ela tivesse parado junto a mim, deixando pela primeira vez olhar à vontade aquela pinta na face, aquele maneio de nuca, aquele canto de sobrancelhas, assim como o recatado colo e braços.  Para mim, verdadeira graça.  Voluptuosa descoberta.  Aquelas linhas que me pareciam quase proibidas de olhar, poderia estudá-las aqui como num tratado da única geometria valorosa para mim.”

 

          O lindo sorriso invadindo a tela.  Aproximando aqueles olhos até sentir seu arfar, via um quê de tristeza.  No fundo é desta multiplicidade de sentimentos que nasce a criatividade poética.

          Rolei a imagem passando pelos ombros, braços.  Deslizei as mãos pela delgada cintura.  Já misturava o real e imaginário. 

          A sinuosidade dos quadris, ancas, pernas.  Perfeição de formas, valorosa geometria.

          A pulsação acelerando, vista turva.  Abandonava perigosamente o mundo real.

                    Despertei com o iPad anunciando a chegada de nova mensagem:

 

          Estou rastreando a encomenda.  A “coisinha” já está em processo de entrega.  Hoje deve recebê-la. 

 

Cambaleante, fui atender o interfone, seguido pelo onisciente olhar.

 

          Chegou!  Agora em minhas mãos!

Uma colorida caixa azul, toda etiquetada, escrita a mão com marcantes letras. Dentro, um envelope de papel metalizado guardava a antologia e uma caixa de madeira preta: a "coisinha".

No livro, os poemas e doce dedicatória.

Na caixa, uma rocha acompanhada das palavras: Para você, um pedacinho do Rio São Francisco.

 

          Ainda rastreado por aquele olhar, nova mensagem:

 

Não falei que era só uma coisinha, grande é o prazer de lhe enviar, tão importante tem sido nesta minha trajetória, seu apoio.

Admirar e catar pedras são manias que trago desde menina.

Segue imagem da rocha no lugar de origem.  São terrenos em camadas, que vão se desmanchando, formados em fundo de lagos.  O lugar é bem interessante e sugestivo.

Lá pisando ou sentada, solitária pensava e sentia a importância do tempo e o trabalho das águas.

"Eternidade".

 

          Interessante como sonhos podem confundir-se com a realidade, mesmo alguns segundos após sermos despertados por estridentes ruídos de tablets e interfones.

          Emocionado pelo original presente, agradeci formalmente a gentileza da lembrança.

 

          Mas as aspas, lá ainda estavam em “Eternidade”.

          Como diz a sabedoria popular:

          “Aí tem coisa”

A “coisinha”.

Do livro não publicado, "Transparências" 

Teócrito Abritta, 2014. 



 

domingo, 7 de março de 2021

Pagu: a Trágica Musa do Modernismo

 

No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, que tal relembrarmos desta mulher tão esquecida?

          Patrícia Galvão, a Pagu (1910-62), foi jornalista, escritora, poeta e agitadora cultural.  Foi também crítica literária, de teatro e artes visuais.  Traduziu obras de autores quase desconhecidos no Brasil, como Kafka, Valéry, Pirandello, Ionesco e outros. 

          Pagu foi militante comunista, tendo sido ferida em protestos de rua em Paris e torturada na prisão no Rio de Janeiro.

          Um fato interessante e original em sua vida, é que ela introduziu a soja em nosso país, trazendo sementes que lhe foram presenteadas pelo último imperador da China.

 

          Abaixo reproduzo a elegia feita por Carlos Drummond de Andrade por ocasião de sua morte:

 

Imagens de Pedra

Carlos Drummond de Andrade

Patrícia Galvão, musa trágica da Revolução, entre literatos... O qualificativo parece romântico. Mas se levarmos em conta que esta mulher de grande valor e sensibilidade entrou para o cárcere aos 25 anos de idade e dele saiu aos trinta, pagando alto preço pelo crime exclusivo de ter ideias de justiça social quando fascismo e nazismo pareciam na iminência de conquistar o mundo para sempre; se soubermos que viajou à Europa e à Ásia para confrontar a coisa imaginada com a coisa real, e esse confronto não a deixou feliz; que experimentou a condição proletária, e conheceu a impostura dos chefes e a miséria de estrutura do partido da revolução, sentiremos a gravidade do destino de Patrícia, a que não faltou o definitivo desencanto, prêmio rude de quem vive uma ideia-sentimento: sem se reconciliar com a ordem combatida recolheu-se ao “templo da decepção”, onde a arte e a literatura oferecem consolo ao ser ofendido.  Na história do modernismo, seu nome põe um colorido dramático de insatisfação levada à luta política. 

Correio da Manhã, 16 de janeiro de 1963.

 

Nas vésperas de sua morte, Pagu publicou o poema “Nothing”.

 

Nothing

 

Nada nada nada

 

Nada mais do que nada

 

Porque vocês querem que exista apenas o nada

 

Pois existe o só nada

 

Um para-brisa partido uma perna quebrada

 

O nada

 

Fisionomias massacradas

 

Tipoias em meus amigos

 

Portas arrombadas

 

Abertas para o nada

 

Um choro de criança

 

Uma lágrima de mulher à-toa

 

Que quer dizer nada

 

Um quarto meio escuro

 

Com um abajur quebrado

 

Meninas que dançavam

 

Que conversavam

 

Nada

 

Um copo de conhaque

 

Um teatro

 

Um precipício

 

Talvez o precipício queira dizer nada

 

Uma carteirinha de travel’s check

 

Uma partida for two nada

 

Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas

 

Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava

 

Um cão rosnava na minha estrada

 

Um papagaio falava coisas tão engraçadas

 

Pastorinhas entraram em meu caminho

 

Num samba morenamente cadenciado

 

Abri o meu abraço aos amigos de sempre

 

Poetas compareceram

 

Alguns escritores

 

Gente de teatro

 

Birutas no aeroporto

 

E nada.

 

“Nada mais do que nada

 

Porque vocês querem que exista apenas o nada

 

Pois existe o só nada!

 

(Publicado em “A Tribuna”, Santos/SP, em 23/09/1962).

 

Ler mais em: “Pagu: Vida-Obra”, Augusto de Campos, Companhia das Letras, 2014.

 


quarta-feira, 22 de julho de 2020

PSSC


O PSSC Physical Science Study Committee, foi um programa norte-americano para desenvolver o ensino de Ciências de uma forma mais atraente.  O projeto global incluía também Biologia e Química.  Esta foi uma resposta dos meios acadêmicos quando a União Soviética lançou seu primeiro satélite artificial.  Todo o material deste projeto (livros, filmes, laboratórios, testes e treinamento de professores) foi lançado no Brasil, em 1963, pela Editora Universidade de Brasília em colaboração com a Unesco. 
Eu tive a sorte de participar como aluno no programa de Física, o que foi decisivo para meus futuros estudos. 
Por aqui temos que fazer algo para alavancar o Ensino em geral, combatendo esta era de incultura.