No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




sábado, 7 de abril de 2012

O Que Deve Ser Dito*


Günter Grass

Por que me calo há tanto tempo

Sobre o que é evidente e se empregava

Em jogos de guerra em que no fim, sobreviventes,

terminamos como notas de pé de página.

É o suposto direito a um ataque preventivo

Que poderia exterminar o povo iraniano,

Subjugado e levado a um júbilo orquestrado por um fanfarrão,

Porque em sua jurisdição suspeita-se da fabricação de uma bomba atômica.

Mas, por que me proíbo de dizer o nome

desse outro país em que há anos ainda que secretamente

Dispõe-se de um crescente potencial nuclear

Fora de controle, já que é inacessível a toda inspeção?

O silêncio generalizado sobre esse fato,

Ao qual o meu próprio silêncio se submeteu,

Me soa como uma grave mentira

e uma coação que ameaça castigar quando não se respeita;

"antissemitismo" é o nome da condenação.

Agora, no entanto, porque o meu país foi

Atingido e chamado às falas uma e outra vez

Por crimes muito particulares

Incomparáveis

rotineiramente,

Mesmo que depois qualificada como reparação,

Vai entregar a Israel outro submarino cuja especialidade

É dirigir ogivas aniquiladoras

Em direção aonde não se comprovou a existência de uma única bomba,

Embora se queira apresentar como prova o medo

Digo o que deve ser dito

Por que me calei até agora?

Porque achava que minha origem,

Marcada por um estigma indelével, me proibia de atribuir esse fato, como é evidente,

Ao país chamado Israel, ao qual estou unido e quero continuar estando.

Por que só agora digo, envelhecido e com minha última tinta: Israel, potência nuclear, coloca em perigo uma paz mundial já por si mesma alquebrada?

Porque é preciso dizer o que amanhã poderia ser tarde demais,

E porque incriminados o bastante por ser alemães poderíamos ser cúmplices

De um crime que é previsível, tornando nossa parcela de culpa impossível de ser extinta com as desculpas de sempre

Admito: não continuo calado porque estou farto da hipocrisia do Ocidente; cabe esperar ainda que muitos se liberem do silêncio, exijam ao causador desse perigo visível que renuncie ao uso da força e insistam também em que os governos de ambos países

Permitam o controle permanente e sem barreiras por uma instância internacional do potencial nuclear israelense e das instalações nucleares iranianas.

Só assim poderemos ajudar a todos israelenses e palestinos e sobretudo a todos os seres humanos que nessa região tomada pela demência vivem como inimigos lado a lado, odiando-se mutuamente, e, definitivamente, ajudar-nos também.

*Tradução livre da versão em espanhol do poema-crônica-protesto, escrito originalmente em alemão e publicado pelo diário "Süddeutsche Zeitung".





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