No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




segunda-feira, 11 de julho de 2011

SOS OSB

Querem destruir a Orquestra Sinfônica Brasileira! Abaixo, um artigo escrito há mais de quatro anos, infelizmente atual!


Transmigração Musical (*)

Nos seus sessenta e seis anos de existência a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) sempre lutou com grandes dificuldades devido à pobreza cultural de nosso país onde a música erudita sempre foi vista como uma manifestação das elites. Nas piores crises a OSB contou com o apoio de seus fiéis assinantes que sempre contribuíram não só adquirindo as assinaturas dos concertos como participando da Sociedade dos Amigos da OSB e fazendo doações para os projetos desenvolvidos por esta Orquestra dentro da Lei de Incentivos Fiscais. Entretanto hoje temos uma crise com outras características, já que os assinantes tradicionais estão desaparecendo não sendo substituídos pelas gerações mais novas. Isto em parte devido aos modismos onde a música clássica ou erudita não tem vez e infelizmente também a extrema violência do Rio de Janeiro faz com que deslocar-se à noite para assistir um concerto musical no Teatro Municipal torne-se um ato de extremo risco. Portanto considero meritória a nova orientação da direção desta Orquestra para atrair o público jovem. Infelizmente no último concerto de 04 de novembro, regido pelo maestro Roberto Minczuk acredito ter havido um erro, não só na dose como na direção adotada com a apresentação de “On the transmigration of souls” (“Sobre a transmigração de almas”), uma peça musical do compositor americano John Adams, que trata dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York. Esta música teve uma estréia mundial em 2002 e foi apresentada em 2003 pela Osesp em São Paulo, mas a sua apresentação agora no Rio, quatro anos depois, para mim configura-se como um desrespeito às vítimas inocentes deste atentado, já que o terrorismo que sofreram foi usado para justificar o mega terrorismo dos dias de hoje com a extrema violência praticada no Afeganistão, Iraque, Líbano e agora em Gaza. Deveríamos olhar um pouco para a Espanha que ao sofrer um terrível atentado terrorista respondeu diminuindo um pouco o sacrifício de civis retirando as suas tropas do Iraque onde eram conhecidas por sua brutal violência. Considerei esta apresentação uma tentativa de instrumentalizar a OSB que além de ter sua apresentação atrasada em vinte minutos, o maestro após a sua entrada ainda passou dez minutos discorrendo sobre o atentado de 11 de setembro em um tom didático como se falasse para analfabetos, sugerindo que no final da apresentação não houvesse aplausos. Para completar o apelo melodramático ainda encaixaram um tal de Coro Infantil da UFRJ (e a respeitada Escola de Música da UFRJ como fica?) onde as crianças não conseguiam cantar, bocejavam o tempo inteiro, lembrando-nos dos tempos de escola onde fazíamos figuração fingindo cantar o Hino Nacional.
Quanto à peça musical “On the transmigration of souls” considerei uma cópia imperfeita da Sinfonia de Luciano Berio composta em 1968 e com estréia mundial pela Filarmônica de Nova York em 10 de outubro do mesmo ano, saudada pelo TIME como “Uma excitante experiência musical que focaliza os males da época melhor do que todos os movimentos de protesto de vanguarda, de misticismo e de violência que afetam a vida contemporânea. É uma grande e estimulante composição musical”.
Enquanto a peça de Adams é baseada em um poema simples, conforme a definição do maestro Minczuk em sua preleção, eu diria simplório, na Sinfonia de Berio temos trechos de Le Cru et le Cuit de Claude Levi-Strauss, extratos de The Unnamable (O Indescritível) de Samuel Beckett e um tributo a Martin Luther King. Nesta peça temos uma sofisticada e ímpar integração entre música e vozes, enquanto em Adams apenas uma superposição linear das vozes com a música acompanhada de algumas distorções produzidas por computador.
Ao retornar do Teatro Municipal nesta noite, após a apresentação desta Transmigração Musical, ressuscitei um velho LP com a primeira gravação mundial da Sinfonia de Luciano Berio, pela Filarmônica de Nova York acompanhada do The Swingle Singers e regida pelo próprio compositor, reativei uma velha vitrola Garrard Zero 100 para finalmente, retrocedendo mais de trinta anos, desfrutar de uma boa música pensando como seria bom para a Humanidade se pudéssemos ressuscitar também os ideais de Democracia e Liberdade de Lincoln e Roosevelt substituídos nos dias de hoje pelo culto da morte, da tortura e do racismo.

(*)Publicado originalmente no Montbläat 211, de 7 de novembro de 2006.

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