No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




quinta-feira, 14 de julho de 2011

CRIMES CONTINUADOS I

Nesta nova fase do Montbläat – pós 400 – pensei em voltar a escrever sobre política. Mas estou encontrando muitas dificuldades, pois as atuais situações são muito parecidas e tudo que tento escrever parece plágio do que já publiquei aqui. Assim, resolvi republicar alguns artigos, começando por este, de maio de 2007. Como a leitura mostrará, o que vemos hoje é meramente um crime continuado. A única a diferença é a perda da vergonha, com os colunistas “oficiais” do “O Globo”, como Zuenir Ventura, escrevendo sobre o sofrimento da “famiglia” Cabral, esquecendo o triste fim do menino Juan massacrado pela polícia deste mesmo governador e enterrado diante do horror de seus familiares ameaçados pelos criminosos. Triste também é Fernando Veríssimo escrevendo: “Dilma desfazendo o acordo (de propina para o PR), estará redimindo Lula e o PT dos seus pecados por associação”. Parecem até estórias sob encomenda de sacerdotes da alienação.


Ladrões de Estradas

Rei, Rei, Rei
Rei Sebastião
Quem desencantar Lençóis
Vai abaixo o Maranhão

Naquele imenso areal um pescador costurando uma rede, uma lavadeira de roupas ou mesmo crianças brincando de roda, todos cantam esta enigmática canção de esperança no Rei Sebastião que vai trazer não só a redenção, como também as riquezas do litoral sul maranhense (vai abaixo o Maranhão). Estamos falando de uma pequena ilha isolada nas chamadas Reentrâncias Maranhenses – no litoral norte deste estado – com suas infinitas ilhas e ilhotas, baías e bancos de areia que já causaram muitos naufrágios, desde os antigos galeões espanhóis e portugueses até modernos barcos pesqueiros que por lá se aventuraram. O povo da Ilha de Lençóis é também chamado de “Os Filhos da Lua” por sofrerem de albinismo causado pelos casamentos consanguíneos nesta comunidade em função de seu isolamento.
O Rei Sebastião dos Filhos da Lua é o mesmo Príncipe Escondido dos portugueses que não acreditaram na sua morte com o seu desaparecimento em 1578 na batalha de Alcácer Quibir no Marrocos. Já que dizem que ele se escondeu em uma ilha, porque não na nossa Ilha de Lençóis, onde foi encantado na forma de um aterrorizante touro que assusta a população? A receita para quebrar o encanto é simples: basta não temê-lo e oferecer-lhe uma filha em casamento para termos o rei de volta com todo o seu poder. Para os moradores mais sensatos, o rei já deve ter morrido pois ninguém vive quatrocentos anos. Pelo sim e pelo não, é melhor que tudo fique como está, pois o baixo Maranhão só traria desilusões, com o atual governador e três ex-governadores imersos em denúncias de corrupção e ou indicações ministeriais sob alta suspeição.
No calor da campanha eleitoral em que Lula perdeu a eleição para Fernando Henrique, o nosso ex-defensor do povo dizia que o seu oponente entendia era de Europa e Sorbonne e que ele, por viajar pelos fundões do Brasil, era um entendido em nossos problemas. Mas acontece que Lula inicialmente viajava pelas mãos do peleguismo e depois guiado pelos olhos das piores oligarquias com suas práticas de corrupção, depredação ambiental, trabalho escravo e todas as atividades mafiosas que levaram o nosso Presidente a ser um representante do que tem de pior no Brasil como, por exemplo, os políticos do Maranhão e Alagoas que praticamente ditam normas nomeando e desnomeando Ministros, em suas táticas de despistamento das pegadas lamacentas da corrupção, sob as vistas de um Lula que para tudo diz amém.
O Maranhão parece um estado em que a criminalidade é livre desde que sustente os políticos. Só para dar alguns exemplos, observei ao visitar a cidade de Tutóia que entre as ruas tomadas por lixo – parece que não existe o recolhimento de lixo urbano – circulava um número grande de caríssimos jipes 4x4, o que era estranho diante da capenga economia municipal. Mas tomando uma cerveja em uma birosca tudo foi esclarecido: após a colheita da safra de maconha os agricultores investiam nestas viaturas que eram usadas uma vez por mês para levar os aposentados pelo Funrural – em sua maioria por processos fraudulentos – aos bancos para o recebimento de suas aposentadorias, a uma taxa de 5% e na época das eleições trabalhavam recolhendo os eleitores para o chamado voto de cabresto. Já na capital São Luís, fiquei pasmo com as conversas com empresários paulistas que estavam em meu hotel e falavam abertamente que até para respirar naquele estado tinham que pagar propinas ou aceitar sociedades com aqueles vagabundos (conforme suas palavras). Nas ruas desta capital podemos ver tristemente todo um patrimônio histórico e arquitetônico abandonado, com tudo desabando apesar das verbas que o Governo Federal envia. Em Alcântara a situação parece ser pior, pois a maioria dos prédios já desapareceu. Em Santo Amaro observei uma situação inusitada, onde o poder público patrocinava, sem nenhum ônus para a população, uma televisão a cabo na zona urbana deste município, mas que na contramão de qualquer princípio democrático só transmitia a programação de uma estação maranhense retransmissora da TV Globo, em um verdadeiro Big Brother (ver 1984 de George Orwell) nordestino, tirando do povo o direito de opinião independente. O Senador Sarney em seu inflamado discurso em defesa da liberdade dos meios de comunicação venezuelanos, poderia ter poupado a garganta e a paciência dos ouvintes e simplesmente dizer a Hugo Chávez que enquanto ele vinha com milho, há muito a oligarquia maranhense já ia com o fubá. Mas o pior foi quando me aconselharam a não ir para Barreirinhas por uma estrada recentemente inaugurada pela Governadora Roseana Sarney, pois o povo estava roubando a estrada. Não entendi o significado do que era roubar uma estrada até que verifiquei in loco. Na realidade a Governadora tinha inaugurado um simulacro de estrada que consistia em uma fina camada de asfalto aplicada diretamente sobre a areia e que se fragmentava totalmente conforme os carros passavam. A defesa das autoridades era que o culpado era o povo. Ao invés de serem ofendidos e chamados de ladrões, os moradores da região deveriam ser elogiados, pois desempenhavam uma tarefa de preservação ambiental, já que livravam a natureza da poluição causada pelas placas de asfalto que se soltavam da estrada, dando uma utilização que era a calafetação dos barcos usados em seus trabalhos de pescaria. Hoje, quando vemos as impressionantes fotografias das pontes maranhenses construídas no meio do nada com o nosso dinheiro, levado para o PAC de Lula e Dilma Rousseff, pelo menos podemos saber claramente quem são os ladrões de estrada, absolvendo os humildes pescadores acusados pelos poderosos do Maranhão que têm assento até na Academia Brasileira de Letras dentro do triste apagão ético em que vivemos.

Pescadores maranhenses rotulados criminosamente pelos políticos de ladrões de estradas. Foto T.Abritta, Alcântara – MA, 1996.

Enquanto isto em Brasília o beija mão vergonhoso patrocinado pelos vetustos senadores ao seu presidente, acusado de irregularidades sem fim, mostra que a corrupção está generalizada e lembrou-me do mafioso Dom Corleone no filme “O Poderoso Chefão”. O teatrinho senatorial estaria completo se tivéssemos a participação visível daquele personagem que se considera o ápice da espécie humana, mas que paradoxalmente diz nunca saber de nada. Para esta turma, devemos lembrar que Al Capone nunca foi condenado por seus crimes, mas acabou preso por sonegação.
Como iniciamos com uma música, vamos terminar com um poema de Odylo Costa Filho, falecido em 1979.

Se a ponte é feita de furto
Pinte a ponte furta-cor
Daí porque a ponte é isto:
Arco-íris da ilusão
Sempre visto sem ser visto
Nos ares do Maranhão

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