No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




terça-feira, 12 de julho de 2011

MONTBLÄAT 400

Para este Mont, dois textos: o primeiro (Errâncias), um poema em prosa sobre nossas errâncias imaginárias ou reais por este mundo afora. O segundo (Égloga do Sertão), indignação, muita indignação contra nossos políticos, contra o apagão ético em que vivemos, onde intelectuais, escritores, acadêmicos, artistas – que se dizem de vanguarda – e até “teólogos da libertação”, calam-se diante das violências da aliança Lula-Sarney, representada oficialmente por Dilma. Triste este mutismo, que tolera censura, crimes ambientais, ocultação de cadáveres dos desaparecidos políticos, corrupção, mortes de trabalhadores, uso da Força de Segurança Nacional na repressão trabalhista, escravidão nas obras do PAC e vamos por aí neste inimaginável jogo de interesses, onde até a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, cala-se, apenas interessada em sua candidatura à Prefeitura de Porto Alegre.



Errâncias

Tal pássaro peregrino pousei na claraboia. Breve parada no voo sem fim desta rota infinita.

Com a luz do dia admirei. No brilho das estrelas penetrei a cor capitosa de pele sinuosa: cabelos escorrendo em curvas de olhar. Boca molhada insinuando um desejar, um moldar de seios aconchegantes no imaginário abraçar.

Frio insensível espírito errante. Sete continentes a percorrer. Sete véus a desvendar. Carnes vibrantes a revelar...

A hora é de partir. Rumo errático na chegada sem fim.
Apenas tênue brilho estelar.
Apenas uma claraboia a iluminar.

Frio insensível espírito errante.



Égloga Sertaneja

Dilze? Dilze? Onde está o meu facão?
Dilze? Dilze? Onde está o meu velho punhal Caroca?
Hoje vai ter servidão nesta biboca.

Café brejeiro, feijão verde, jerimum do sertão.
Galinha capoeira, bode mamão.
Cacto facheiro, xique-xique, coroa de frade.
Esta, a visão.

Inverno-verão, chuva-secura.
Inverno-inferno – esta, a estação.

Minha casa, minha vida (a deles).
Só dissimulação, muito dinheiro pra desconstrução.

A filha da prefeita é vereadora. O filho deputado.
O marido prefeito ao lado. Tem irmão senador de estado.

Sertão-servidão-ladrão.
Dilze? Dilze? Onde está o meu facão?
Pra correr sangue neste chão.
Libertar o Sertão desta servidão!


Nota:
Caroca: Antigo e tradicional fabricante de punhais, que existia em Campina Grande, Paraíba


Esperamos que o Montbläat continue, por muitos outros números, sempre independente e aberto à pluralidade de ideias, sob a direção de nosso caro Editor e amigo Fritz Utzeri na sua luta pela vida e pela ética neste país, desmascarando os quadrilheiros que tomaram conta deste Brasil.

Abraços para Fritz, Liège e todos os amigos de tanto tempo e que comemoremos este marco jornalístico. Afinal, sobreviver 400 edições, sem as amizades do poder, é um fato memorável
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