No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Chegada de Lampião em Brasília

E persistem os crimes continuados facilitados por este grande conluio Parlamento-Executivo-Judiciário. O Supremo Tribunal Federal depois de “liberar” os ficha sujas entra em férias coletivas (olha que são quatro meses por ano, fora feriadões e férias individuais), enquanto centenas de processos contra políticos caminham para a prescrição. Este sistema é um incentivo para crimes continuados, sempre impunes, como certamente serão as atuais falcatruas no governo Dilma, a par das propaladas “rigorosas” apurações. Infelizmente nada mudou desde os tempos Lula, como já escrevemos em junho de 2007 (ver artigo abaixo).
E Dilma oferece um coquetel no Palácio do Planalto, confraternizando com seus cúmplices das acusações de corrupção.
Enquanto isto, Lula e a cooptada UNE festejam o triunfo da “Nova Direita Brasileira”.



A Chegada de Lampião no Inferno” é um folheto cuja tiragem anual alcança mais de duzentos mil exemplares no Nordeste, apesar de editado há mais de vinte anos. É um exemplo típico de literatura de caráter ideológico. O inferno que o poeta camponês descreve tem vigia, depósito de algodão, casa de “ferragens”, vidraça, oitão, cerca e portão. Não é outra coisa senão a fazenda do latifundiário. Lampião, no fundo, representa o próprio camponês que deseja conquistar tudo aquilo. O vigia barra-lhe a entrada e comunica a Satanás, a quem chama de Vossa Senhoria, como faz com o latifundiário, a chegada do intruso. Mas Lampião finda vitorioso:

“Houve grande prejuízo
No inferno, nesse dia;
Queimou-se todo o dinheiro
Que Satanás possuía
Queimou-se o livro de ponto
E mais de seiscentos contos
Somente em mercadoria”

Acima reproduzimos um trecho de Francisco Julião de seu livro “Que são as Ligas Camponesas?”, publicado em 1962 pela Editora Civilização Brasileira. Nestes tempos, a par da miséria crônica, o nordeste brasileiro era uma terra de luta e esperança por tempos melhores e um celeiro de espíritos indomáveis, não deixando, entretanto de dar grandes contribuições artísticas e culturais para as soluções dos problemas brasileiros.
Este espírito revolucionário começou com Zumbi dos Palmares, que foi também um líder civilizador, pois trouxe a fundição do ferro para as Américas. Do nordeste brasileiro também saíram grandes líderes populares, como Francisco Julião com suas ligas camponesas e os heróis do Engenho Galiléia que começaram a sua luta pelo direito de alfabetização. Temos aqui a coragem e força de um Gregório Bezerra que na época da ditadura negava-se a falar, mesmo sob as piores torturas, diante de um Tribunal Militar espúrio. Hoje, parece que a esperança de Dom Hélder Câmara evaporou-se, a “Geografia da Fome de Josué de Castro” foi rasgada, a “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire foi destruída, as obras de Celso Furtado e Gilberto Freyre apagadas, a grande literatura de João Cabral de Melo, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Ariano Suassuna, substituídas pelo lixo televisivo e a obra de Mestre Vitalino, juntamente com os artistas populares do Alto do Moura trocados pelas quinquilharias contrabandeadas do Paraguai. Até o pequeno distrito de Vargem Grande, no Município de Garanhuns em Pernambuco, local de nascimento de Lula, já não existe mais, transformou-se em Caetés, pois por aqui as cidades não crescem pelo progresso, crescem pela mão da superpopulação e da miséria que promovem mais os políticos e sugam as verbas que se evaporam como em um truque do demo.
Hoje para conhecermos a miséria nordestina não basta uma visita ao sertão, temos que a partir da decadente Praia da Boa Viagem, na outrora bela Recife, cantada por muitos como uma Veneza tropical, visitarmos o interior deste grande aglomerado urbano, a maior mega-favela das Américas formada por um contínuo de municípios como Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Nova Paulista e Igarassú, todos com muita miséria, falta de saneamento, educação, habitação e o maior índice de violência do Brasil, só não tendo destaque na grande imprensa por ser entre a população que não freqüenta as colunas sociais. Por aqui o progresso pode ser aferido pelo número de sacos plásticos brancos que “adornam” os rios da capital, os famosos “pombos”, que levam os detritos das populações sem instalações sanitárias e pela poluição das praias de Muro Alto pelo Porto Suape.
Dentro do triste apagão ético em que vivemos, ainda assistimos o paraibano Ariano Suassuna que já se definiu como: “Sou, como todo escritor, uma espécie de sonhador, sem muito jeito para político ou cientista”, ser cooptado pelo poder, traindo o seu Movimento Armorial ao assumir a Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco e como sempre para deixar marcas, uma grande obra arquitetônica: a última área verde de Recife a beira mar, perto da praia da Boa Viagem, será destruída, sem nenhum estudo de impacto ambiental e substituída por uma imensa área coberta de concreto, a pretexto de construir um centro cultural para o Prefeito de Recife fazer seus comícios para platéias de até 20 mil pessoas neste pátio, chamado de Parque Dona Lindu. Isto tudo com a benção de um projeto de Oscar Niemeyer.
Mas hoje o inferno e os opressores se sofisticaram, usam os R$ 15,00 a R$ 45,00 do Bolsa Família, para extorquirem votos de um povo que jamais terá trabalho, educação e dignidade, pois com a consciência vem a vontade de mudar e a sede de justiça. E o diabo está mais esperto, indo habitar aquela cidade projetada para uma pequena elite do poder ficar protegida do cheiro do povo, obrigado a viver em seu entorno no eufemisticamente chamado Recanto das Emas. Sobre esta cidade Clarice Lispector escreveu: “A construção de Brasília: a de um Estado totalitário” ou “Quando morri, um dia abri os olhos e era Brasília. Eu estava sozinha no mundo. Havia um táxi parado no ponto. Sem chofer”. Clarice também escreveu sobre esta cidade frases impressionantes como: “A alma aqui não faz sombra no chão” e “É urgente: se não for povoada, superpovoada, uma outra coisa vai habitá-la. E se acontecer, será demais: não haverá lugar para pessoas. Elas se sentirão tacitamente expulsas”.
Infelizmente a visão trágico poética de Clarice se concretizou, sendo ainda esta cidade administrada por uma pessoa que recentemente foi envolvida em um dos maiores atentados a nossa democracia, que foi a fraude no painel de votação do Senado, temperada com a concussão de funcionários desta casa legislativa.
Ainda nem nos recuperamos da vergonhosa partilha ministerial em Brasília e assistimos, como em um filme de terror, uma multidão de insignificâncias intelectuais disputando a tapas cargos técnicos em órgãos importantes como: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, IBGE, Comissão de Valores Mobiliários, Susep, INPI, Inmetro, Cnen, Fundação Oswaldo Cruz, Casa de Rui Barbosa e outros 270 cargos, que estão em uma lista preliminar catalogada pelo Ministro Mares Guia e comparada pela jornalista Miriam Leitão a um resort all inclusive.
Contra tudo isto devemos invadir Brasília como o Lampião dos cordelistas chegou ao Inferno, mas sem violência, armados apenas com a força da ética. Mas onde encontrar esta arma? Para encontrá-la não adianta apenas combater os políticos e magistrados corruptos. Devemos cultivá-la no nosso dia a dia combatendo aquela jornalista que ganha uma viagem a Antártica para elogiar o governo; aquele cronista sulista que escreve sobre Sarkozy para não criticar a direita petista; aquele professor universitário que se aposenta e faz concurso para o mesmo cargo, tirando uma vaga de um de seus ex-alunos; aquele juiz que após julgar favoravelmente uma causa do cantor Roberto Carlos age tal qual uma macaca de auditório, tirando fotografias e presenteando-o com um CD, conforme publicado no O Globo de 10 de junho de 2007. Devemos combater também aquele cientista que vende a sua dignidade para arranjar um empreguinho para um filho inepto ou ocupar uma diretoria federal; não devemos nos esquecer daquele líder estudantil subsidiado vergonhosamente por um partido político ou daquele pseudo-ecologista cuja prática é a sua fonte de renda ou mesmo aquele operário que usa o auxílio alimentação de sua família para beber cachaça. A lista é longa, mas se não cultivarmos a ética será melhor deixarmos os Senadores se divertindo com as mulheres genéricas conhecidas por eles como “as gestantes”. Aqui toquei em um ponto melindroso, mas as ofensas às mulheres e à maternidade vindas da capital federal devem ser respondidas com grande firmeza pela Secretaria Especial de Política para as Mulheres, diretamente pela sua titular Ministra Nilcéia Freire. Será que vai? Eu acho que não, pois esta moça só fica indignada é com a imprensa, quando esta mostra a foto do pé da Ministra Marta Suplicy envergando um calçado Prada de valor equivalente a umas duzentas bolsas família.

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