No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




domingo, 15 de setembro de 2013

SUPREMOS PERSONAGENS


Caro leitor: este artigo, publicado no Montbläat 147, de fevereiro de 2006, nos lembra tristemente da tragédia brasileira, onde os cenários são imutáveis e os personagens apenas mudam de nome, ou mais apropriadamente, de alcunha.

Neste início de ano resolvi não tirar férias, como zerar minhas informações, deixando de ler jornais por mais de um mês, de modo a melhorar a percepção da situação nacional e internacional. Aproveitei para reler Lima Barreto, escritor que muito admiro. Os livros escolhidos foram Recordações do Escrivão Isaias Caminha e Triste Fim de Policarpo Quaresma. Essas obras, respectivamente publicadas em 1909 e 1911, são povoadas de personagens abjetos, servis, sem caráter, corruptos, jornalistas de aluguel e carreiristas desavergonhados, não escapando nem o Marechal Floriano que usa o seu poder de vida e morte para sonegar impostos municipais da fazendola de sua propriedade. Na época, uma das críticas recebidas por Lima Barreto era que seus personagens estavam simplesmente sendo transferidos da realidade como uma chapa fotográfica que imprime diretamente no papel a imagem captada, sem nenhuma criação literária que trouxesse universalidade e perenidade.  Portanto, no futuro, as novas gerações não encontrariam nenhum sabor em sua obra, pois o interesse épico desapareceria juntamente com a geração fotografada. Ledo engano! Ao voltar a ler jornais, estavam os personagens de Lima Barreto como se o tempo fluísse tal qual uma espiral. Se olharmos a projeção desta espiral no plano horizontal, veremos as tristes figuras no mesmo ponto. Se subirmos no eixo vertical do tempo, elas se destacam e se ampliam com a complexidade da sociedade e suas infinitas dobras e frestas por onde se esgueiram os agressores.

          Subindo nesta espiral, ao ligarmos a televisão, nos deparamos com o representante de um partido dito revolucionário, fundado em 1922, que com voz mansa e arrastada serve de capacho para o poder, fazendo Astrogildo Pereira tremer na sepultura. Ao lermos os jornais nos chocamos com um Presidente da República pregando a ignorância e o racismo ao mesmo tempo em que se declara legítimo representante do povo por ser um cafuzo, mas sempre tentando se branquear com seus ternos Armani e aviões de luxo. Não devemos esquecer que em plena época de fanatismo religioso o nosso Vice Presidente da República se bandeou para um partido que entre outras coisas prega que as festas populares de São Cosme e Damião são coisas do Demo.  Enquanto isso, a governadora do Rio posa de fundamentalista religiosa defendendo o ensino do Criacionismo! E o personagem encenado pelo douto Ministro da Justiça que gostava tanto de falar dos planos de segurança com aquele ar de entendido e que agora simplesmente sumiu depois de um telefonema de um ex-governador acusado de corrupção. Por onde anda a Ministra do Meio Ambiente, cuja única ação pública foi há mais de uma década por ocasião da morte de Chico Mendes? E os nossos Teólogos da Libertação que preferem falar do sexo dos anjos a criticar os companheiros que exploram a e a ignorância. E os membros do Supremo Tribunal Federal que se calam com os desvios éticos recorrentes e agressões à Lei Orgânica da Magistratura?

Infelizmente os críticos de Lima Barreto estavam errados e seus personagens vivos como nunca a roerem a nossa Sociedade e paciência!

Sugiro aos esquerdistas de ocasião ou de bolso (sem dupla conotação), que leiam as outras obras deste escritor e, tratando-se de literatura, procurem o significado de Homem de Subsolo na obra de Dostoievski ou de Lumpen-Proletariado nas obras de Marx-Engels. Com estes conceitos claros, poderemos agir criando uma reação séria à triste situação brasileira de miséria e desesperança crescentes, banindo estas excrescências da vida nacional.

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