Moro
na Favela
Favela
agora é Comunidade.
Aqui
tem UPP
Flupp
para aliviar.
Ideologia
pra enganar
polícia
pra matar.
Miséria
da política
política
da miséria.
Na
Comunidade tem bandido.
bandido
oficial.
Tem
trabalhador
otário
social.
Tem
também bandidagem ilegal
fruto
do crescimento populacional.
Aqui
vem muito intelectual
para
olhar calar e faturar.
Dizem
que minha rima é pobre
pobre
como minha vida podre.
Mas
você nem sabe o que é quiasma
se
quiser saber vai ralar
vai
no Aurélio catar.
O
Capenga espalha por aí
que
sou lumpen-proletariado.
Respondi
que ele é veado
eu
aqui a cantar
Capenga
na vala a morar.
Na
Comunidade tudo paga
otário
bandido traficante
e
até mulher de viração
pedágio
pra subornar.
Pacificação
é ação
é
só sofrer na propina pro poder.
Sobrevivo
na coluna do meio
de
um lado polícia e bandido
do
outro otário trabalhador.
Hoje
vai liberar geral
tem
baile na Comunidade.
Cocaína
maconha
white
brown.
Bermuda
larga pra sacar
sem
calcinha sainha curta pra facilitar.
Romantismo
no escurinho
música
pra futucar
melação
pra dançar.
No
trenzinho fica esperto
pra
engatar e não levar.
Bye
bye
hoje
vou vasar
vou
pra Flip azarar.
Muita
Preparada
no
fundo tudo Cachorra.
Cachorra
pra lamber
mulher
pra comer.
E
aqui vou dando meus finalmentes
agora
sou agente cultural
sempre
na mídia global.
Alma
é Lama
Lama
é Alma
quatro
letras
no
seu embaralhado ver
duas
palavras
no
seu contrário ser.
Notas:
UPP
– Unidade de Polícia Pacificadora do Estado do Rio de Janeiro.
Flip
– Feira Internacional de Literatura de Paraty.
Flupp
– Feira de Literatura das Unidades de Polícia Pacificadora.
Apoio
O Globo, patrocínio Ministério da
Cultura, Governo do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro, BNDS e
Petrobrás.
Lumpen-proletariado
– “É o produto passivo da putrefação das
camadas mais baixas da velha sociedade, podendo às vezes ser arrastado ao
movimento por uma revolução proletariada.
Todavia suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à
reação.” Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels. Editorial
Vitória, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara. Brasil, 1963.
Ir
para a vala – Ser morto
Otário
– Trabalhador honesto.
Mulher
de viração – Prostituta que trabalha de modo
independente, sem protetor, não pagando comissões.
Melação
– Momento em que nos bailes populares são tocadas músicas lentas, à meia luz, para
os casais terem mais “intimidades”.
Trenzinho
– Grande roda que circula dançando e cantando quando, na escuridão, tudo é
permitido.
Preparada
– Mulher que sobrevive porque sabe das “coisas”.
Cachorra
– Mulher que sobrevive porque faz e tolera “tudo”.
Muito bom, Abritta. Triste, verdadeiro e a comprovação que poesia existe mesmo na feiura da injustiça do "onde tudo é permitido".
ResponderExcluirE agora com esta volta aos anos 60, com o ministro da Agricultura de Dilma formando um esquadrão da morte com dois irmãos e oitenta fazendeiros para assassinar e roubar terras de camponeses?
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