No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quiasma da Periferia



Moro na Favela
Favela agora é Comunidade.

Aqui tem UPP
Flupp para aliviar.

Ideologia pra enganar
polícia pra matar.

Miséria da política
política da miséria.

Na Comunidade tem bandido.
bandido oficial.

Tem trabalhador
otário social.

Tem também bandidagem ilegal
fruto do crescimento populacional.

Aqui vem muito intelectual
para olhar calar e faturar.

Dizem que minha rima é pobre
pobre como minha vida podre.

Mas você nem sabe o que é quiasma
se quiser saber vai ralar
vai no Aurélio catar.

O Capenga espalha por aí
que sou lumpen-proletariado.
Respondi que ele é veado
eu aqui a cantar
Capenga na vala a morar.

Na Comunidade tudo paga
otário bandido traficante
e até mulher de viração
pedágio pra subornar.

Pacificação é ação
é só sofrer na propina pro poder.

Sobrevivo na coluna do meio
de um lado polícia e bandido
do outro otário trabalhador.

Hoje vai liberar geral
tem baile na Comunidade.

Cocaína maconha
white brown.

Bermuda larga pra sacar
sem calcinha sainha curta pra facilitar.

Romantismo no escurinho
música pra futucar
melação pra dançar.

No trenzinho fica esperto
pra engatar e não levar.

Bye bye
hoje vou vasar
vou pra Flip azarar.

Muita Preparada
no fundo tudo Cachorra.

Cachorra pra lamber
mulher pra comer.

E aqui vou dando meus finalmentes
agora sou agente cultural
sempre na mídia global.

Alma é Lama
Lama é Alma
quatro letras
no seu embaralhado ver
duas palavras
no seu contrário ser.


Notas:
UPP – Unidade de Polícia Pacificadora do Estado do Rio de Janeiro.
Flip – Feira Internacional de Literatura de Paraty.
Flupp – Feira de Literatura das Unidades de Polícia Pacificadora.
Apoio O Globo, patrocínio Ministério da Cultura, Governo do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro, BNDS e Petrobrás.
Lumpen-proletariado “É o produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, podendo às vezes ser arrastado ao movimento por uma revolução proletariada.  Todavia suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação.”  Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels.  Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara.  Brasil, 1963. 
Ir para a vala – Ser morto
Otário – Trabalhador honesto.
Mulher de viração – Prostituta que trabalha de modo independente, sem protetor, não pagando comissões.
Melação – Momento em que nos bailes populares são tocadas músicas lentas, à meia luz, para os casais terem mais “intimidades”.
Trenzinho – Grande roda que circula dançando e cantando quando, na escuridão, tudo é permitido.
Preparada – Mulher que sobrevive porque sabe das “coisas”.

Cachorra – Mulher que sobrevive porque faz e tolera “tudo”.

2 comentários:

  1. Muito bom, Abritta. Triste, verdadeiro e a comprovação que poesia existe mesmo na feiura da injustiça do "onde tudo é permitido".

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  2. E agora com esta volta aos anos 60, com o ministro da Agricultura de Dilma formando um esquadrão da morte com dois irmãos e oitenta fazendeiros para assassinar e roubar terras de camponeses?

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