Intelectuais
que não se vendiam ao poder
...e
uma homenagem a Joaquim Barbosa.
E
um poema de Countee Cullen traduzido por Ribeiro Couto e publicado na Antologia
Poética, Henriqueta Lisboa, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro –
1961:
Ínfima Lhaneza, Suprema Mesquinhez
Negro como a noite é negra, sem a
brancura da podridão. Hoje Joaquim
Barbosa luta contra a corrupção em um Supremo apequenado pela devassidão. Antes, Cruz e Sousa, promotor em Laguna,
afastado pela incompreensão. Negro,
mesmo “escovado”, deve estar fora da legislação. Assim determina o mensalão.
Ontem mataram um promotor que renasceu poeta. Hoje atacam o acusador, em brocardo desamor,
declarando seu pendor:
Sententia facit de albo nigrum, de quadrato rotundum (*).
E os soluços graves, dos violões
suaves, relembram o passado, magoado em ais de dor.
Contorções de açoites fundiram, em
Barbosa, a poesia de Verlaine à cruz de Sousa, nestas trêmulas, extremas,
agressões supremas.
Se, por pequenos passos, caminhamos pela vida e para a morte, aqui lutamos
para a liberdade e aurora transparente de um novo dia.
Notas e Observações
Prosa
poética com fragmentos intertextuais da Poesia
da Negritude e dos poemas Chanson d’Automne de Verlaine e Violões que Choram de Cruz e Sousa.
Os
Poetas da Negritude procuravam novos
significantes para o significado de palavras como “negro”, associada à podridão
e também outros que humilhavam a cor de sua pele. Aqui, por exemplo, uso “brancura” como “podridão”,
associada à cor de tecidos em decomposição por fungos (ver Anthologie de la Nouvelle Poésie Nègre et Malgache, Léopold Sedar
Senghor – Presses Universitaires, 1948 ou Reflexões
Sobre o Racismo, Jean-Paul Sartre – Divisão Européia do Livro, 1963).
João
da Cruz e Sousa (1861-1898), filho de escravos alforriados, nasceu em Nossa
Senhora do Desterro, atual Florianópolis.
Em 1884, nomeado promotor em Laguna, foi impedido de tomar posse e sua
nomeação impugnada pelos chefes políticos locais em razão de sua cor negra (ver
Apresentação da Poesia Brasileira,
Manuel Bandeira).
(*) A sentença faz do branco preto e do quadrado
redondo.
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