No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Burro Chacareiro

Não, Dotô! Nós ainda somos da antiga. Usamos borzeguim, bebemos cana, chapéu na cabeça, fumamos cigarro de paia. Rezá é na Igreja. No silêncio.
Hoje tá tudo mudado. Cultura do Povo. Mió, pro povo: Cultura Popular! Rezação diante da televisão enchendo a burra do Pastor, senão o Diabo pega. É assim mesmo. Não deu dinheiro? Vai se entender com o Torto.
Nêgo agora fuma é cigarro de papé ou coisa pior. Só bebe cerveja e sai por aí jogando as latinhas nos rios. Aquelas bermudas nas canelas, boné virado pra trás com cara de fraco das ideias. Roupas coloridas: calça abóbora, camisa roxa. Pega a moto e sai doidão por aí. De noite espia os pecados cantando: ... meu lugar é aqui, é estar com o Senhor. Os políticos é que ficam contentes respondendo: Aleluia, Aleluia... E lá vão nas Kombis, compradas com verba da Prefeitura para transporte escolar, pra rezar e votar nos Deputados, Senadô, até Governadô, prá não esquecer da Presidenta. Dizem que a culpa é do tal do pré-sal, que o Diabo adora lamber. Hoje tá tudo muderno. Tudo eletrônico. Outro dia veio um Pastor-Chefe, lá de São Paulo e falou: o negócio é só lembrar, vote Titica pior não fica! O outro falou: aqui é Rio, tem que falar vote no Pé Grandão. Não, vote no Pedro Álvares Cabral. Até que veio um Pastor mais estudado falando: chega de confusão. É só copiar os números. Depois da votação vou prender o Diabo. Podem até se divertir. Só não vale cobiçar a mulher do próximo, nem pecar contra a natureza!Disco avoador? Por aqui não tem não. Nem uma alminha penada. A luz elétrica acabou com tudo que é assombração. Dava medo, mas mal não fazia não. Só correrias e estórias pra contar.
Outro dia inté que fiquei animado. De noite escutei uns passos que paravam em frente da minha janela. Ladrão? Não. Era casa de pobre. Alguma assombração perdida querendo pouso. Abri a janela num repente e recebi foi um bafo fedorento na cara! Era o burro chacareiro (*).



Nota:(*) burro criado nos quintais das casas, que se comportam como animais domésticos, alguns até entrando nas residências para comer.


Crônica publicada no livro "Cidades de Memórias" a ser lançado em maio próximo.


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