Farsantes e Aproveitadores são assim:
sempre tirando vantagens do Poder...
(artigo publicado em junho de 2007).
“A Chegada
de Lampião no Inferno”
é um folheto
cuja tiragem
anual alcança mais
de duzentos mil exemplares
no Nordeste, apesar
de editado há mais de vinte anos. É um exemplo típico de literatura de caráter ideológico.
O inferno que
o poeta camponês
descreve tem vigia, depósito de algodão, casa
de “ferragens”, vidraça,
oitão, cerca
e portão. Não é outra coisa senão a fazenda
do latifundiário. Lampião,
no fundo, representa o próprio
camponês que
deseja conquistar
tudo aquilo. O vigia
barra-lhe a entrada e comunica a
Satanás, a quem chama
de Vossa Senhoria,
como faz com
o latifundiário, a chegada
do intruso. Mas Lampião finda vitorioso:
“Houve
grande prejuízo
No
inferno, nesse dia;
Queimou-se
todo o dinheiro
Que
Satanás possuía
Queimou-se
o livro de ponto
E mais de seiscentos contos
Somente em mercadoria”
Acima
reproduzimos um trecho
de Francisco Julião de seu livro “Que são as Ligas
Camponesas?”, publicado em 1962 pela Editora Civilização Brasileira. Nestes tempos,
a par da miséria
crônica, o nordeste
brasileiro era
uma terra de luta
e esperança por
tempos melhores
e um celeiro
de espíritos indomáveis,
não deixando, entretanto de dar grandes contribuições artísticas e culturais para
as soluções dos problemas
brasileiros.
Este
espírito revolucionário
começou com Zumbi
dos Palmares, que
foi também um
líder civilizador, pois
trouxe a fundição do ferro para as
Américas. Do nordeste
brasileiro também
saíram grandes líderes
populares, como
Francisco Julião com suas ligas
camponesas e os heróis do Engenho Galileia que
começaram a sua luta
pelo direito
de alfabetização.
Hoje parece que
a esperança de Dom
Hélder Câmara evaporou-se, a “Geografia
da Fome de Josué de Castro” foi rasgada,
a “Pedagogia do Oprimido”
de Paulo Freire foi destruída, as obras
de Celso Furtado e Gilberto Freyre
apagadas, a grande literatura
de João Cabral de Melo, Jorge Amado,
Graciliano Ramos e Ariano
Suassuna, substituídas pelo lixo
televisivo e a obra de Mestre Vitalino, juntamente com
os artistas populares
do Alto do Moura
trocados pelas quinquilharias
contrabandeadas do Paraguai. Até o pequeno distrito de Vargem
Grande, no Município
de Garanhuns em Pernambuco, local de nascimento de Lula,
já não
existe mais, transformou-se em Caetés, pois por aqui as cidades
não crescem pelo
progresso, crescem pela
mão da superpopulação
e da miséria que
promovem mais os políticos
e sugam as verbas que
se evaporam como em
um truque
do demo.
Em nossos dias, para
conhecermos a miséria nordestina não temos que visitar o sertão,
apenas temos que a partir
da decadente Praia da Boa Viagem, na outrora
bela Recife,
cantada por muitos como uma
Veneza tropical, visitarmos o interior deste grande
aglomerado urbano,
a maior mega-favela das Américas formada
por um
contínuo de municípios
como Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Nova
Paulista e Igarassu, todos com muita miséria, falta de saneamento,
educação, habitação
e o maior índice
de violência do Brasil, só não tendo destaque na grande
imprensa por
ser entre a população que não freqüenta as colunas
sociais.
Por aqui
o progresso pode ser
aferido pelo número
de sacos plásticos
brancos que
“adornam” os rios da capital, os famosos
“pombos”, que
levam os detritos das populações sem instalações sanitárias e pela
poluição das praias
de Muro Alto
pelo Porto Suape.
Dentro
do triste apagão
ético em
que vivemos, ainda
assistimos o paraibano Ariano
Suassuna que já
se definiu como: “Sou, como todo escritor, uma espécie
de sonhador, sem
muito jeito
para político
ou cientista”,
ser cooptado pelo poder, traindo o seu Movimento Armorial
ao assumir a Secretaria
de Cultura do Estado
de Pernambuco e como sempre para deixar
marcas, uma grande
obra arquitetônica: a última área verde de Recife
a beira mar,
perto da praia
da Boa Viagem, será destruída, sem nenhum estudo de impacto ambiental
e substituída por uma imensa área coberta de concreto,
a pretexto de construir
um centro
cultural para o Prefeito
de Recife fazer
seus comícios
para plateias de até 20 mil
pessoas neste pátio,
chamado de Parque Dona
Lindu. Isto
tudo com
a benção de um projeto
de Oscar Niemeyer.
Mas
hoje o inferno
e os opressores se sofisticaram, usam a Bolsa Família para extorquirem votos de um povo que jamais terá trabalho, educação e dignidade,
pois com a consciência vem a vontade
de mudar e a sede
de justiça. E o diabo está mais esperto,
indo habitar aquela cidade
projetada para uma pequena
elite do poder
ficar protegida do cheiro
do povo, obrigado
a viver em seu entorno no eufemisticamente chamado Recanto das Emas. Sobre
esta cidade Clarice Lispector escreveu: “A construção de Brasília: a de um
Estado totalitário” ou “Quando
morri, um dia
abri os olhos e era
Brasília. Eu
estava sozinha no mundo. Havia um
táxi parado no ponto. Sem chofer”.
Clarice também escreveu sobre esta cidade
frases impressionantes
como: “A alma
aqui não
faz sombra no chão”
e “É urgente: se não for povoada,
superpovoada, uma outra coisa
vai habitá-la. E se acontecer,
será demais: não
haverá lugar para
pessoas.
Elas se sentirão tacitamente
expulsas”.
Infelizmente
a visão trágico
poética de Clarice se concretizou, sendo
ainda esta cidade
administrada por uma pessoa
que recentemente
foi envolvida em um
dos maiores atentados
a nossa democracia,
que foi a fraude
no painel de votação
do Senado, temperada
com a concussão
de funcionários desta casa legislativa.
Ainda
nem nos
recuperamos da vergonhosa partilha ministerial em
Brasília e assistimos como em um filme de terror,
uma multidão de insignificâncias
intelectuais disputando a tapas cargos técnicos em órgãos importantes
como: Banco
do Brasil, Caixa Econômica
Federal, IBGE, Comissão
de Valores Mobiliários, Susep, INPI,
Inmetro, Cnen, Fundação Oswaldo Cruz, Casa de
Rui Barbosa e outros 270 cargos, que
estão em uma lista
preliminar catalogada pelo
Ministro Mares
Guia e comparada pela
jornalista Miriam Leitão
a um resort
all inclusive.
Contra
tudo isto
devemos invadir Brasília como
o Lampião dos cordelistas chegou ao Inferno, mas sem violência,
armados apenas com
a força da ética. Mas onde encontrar esta arma? Para encontrá-la não
adianta apenas combater
os políticos e magistrados
corruptos. Devemos cultivá-la no nosso
dia a dia
combatendo aquela jornalista que
ganha uma viagem
a Antártica para
elogiar o governo;
aquele cronista sulista
que escreve sobre
Sarkozy para não
criticar a direita
petista; aquele professor
universitário que
se aposenta e faz concurso
para o mesmo cargo, tirando uma vaga
de um de seus
ex-alunos; aquele juiz
que após julgar favoravelmente uma causa
do cantor Roberto Carlos age tal qual uma macaca de auditório,
tirando fotografias e presenteando-o com um CD, conforme publicado no O Globo
de 10 de junho de 2007. Devemos combater também aquele cientista que
vende a sua dignidade
para arranjar um empreguinho para um filho inepto
ou ocupar uma
diretoria federal;
não devemos nos
esquecer daquele líder
estudantil subsidiado vergonhosamente por
um partido
político ou
daquele pseudo-ecologista cuja prática é a sua fonte de renda ou mesmo aquele operário que usa o auxílio alimentação
de sua família
para beber cachaça. A lista é longa, mas se não
cultivarmos a ética será melhor deixarmos os Senadores
se divertindo com as mulheres genéricas conhecidas por
eles como
“as gestantes”. Aqui
toquei em um
ponto melindroso, mas
as ofensas às mulheres
e à maternidade vindas
da capital federal
devem ser respondidas com
grande firmeza
pela Secretaria
Especial de Política
para as Mulheres,
diretamente pela
sua titular Ministra Nilcéia Freire. Será que
vai? Eu
acho que não,
pois esta moça
só fica indignada é com
a imprensa, quando
esta mostra a foto
do pé da Ministra
Marta Suplicy envergando um calçado Prada de valor
equivalente a umas duzentas bolsas família.
...e assim hoje, em 2016, nove anos depois, as facções criminosas continuam com seus crimes sem fim!
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