Um artigo infelizmente atual...
Tenho um
velho hábito,
herdado de meu pai,
que é recortar
notícias que
considero interessantes, datá-las e guardar dentro de um livro que trate
de um assunto
correlato. Esta prática, em geral nos propicia descobertas
interessantes, como aconteceu outro dia ao retirar da estante o livro Cangaceiros e
Fanáticos de Rui Facó. Abaixo
apresento em fac-símile alguns recortes que
tratam da violência no nordeste brasileiro, há
quarenta anos, e que estavam guardados entre as páginas
deste livro. A primeira
notícia fala
da saga do menino
Pedro Gonçalves de Sá, preparado durante onze anos
para vingar a morte de seu pai. Este acontecimento
teve os ares de uma tragédia
grega, muito
comum no nordeste
brasileiro, já
tendo sido retratado na literatura por Adonias Filho
em seu
romance Corpo Vivo,
que descreve a história
de Cajango, criado por
seu tio,
o meio-índio Inuri, para tornar-se um jagunço cruel com os poderosos, da zona cacaueira baiana,
que exterminaram a sua
família.
Em entrevista
na época, o autor
deste romance declarou que a história
de Cajango era baseada
em fatos
reais.
As outras notícias falam da violência cometida pelos
políticos e das barbaridades
policiais.
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Notícia
1 - Publicada no Jornal do Brasil, 23 de
dezembro de 1967.
Notícia
2 - Publicada no Jornal do Brasil, 23 de
dezembro de 1967.
Enquanto
estes recortes dormiram no interior de um livro durante quatro décadas,
a violência no Brasil manteve-se ativa, apenas
mudando a sua roupagem. Os políticos
nordestinos não ficam mais por aí apenas dando
tiros uns nos
outros e vivendo da indústria
da seca.
Eles, em
certo sentido,
progrediram – graças à deformação da representação
eleitoral, imposta
pela ditadura
e sacramentada pela nossa
Constituição – e hoje
se uniram aos empresários do sudeste, deram empregos
a alguns acadêmicos,
cientistas, jornalistas
e intelectuais, incluindo seus familiares
e filhos ineptos, para
construírem a maior máquina
criminosa para
assaltar os cofres
públicos deste país,
em uma ação temperada por uma
pseudo-ideologia esquerdista. O triste disto é que
enquanto até
os traficantes de drogas do Rio de Janeiro
investem em atividades
semi-ilegais, como as “vans” do transporte
alternativo, esta máfia
é incapaz de investir
em uma simples
fábrica de vassouras,
de modo a dar
algum emprego
aos seus conterrâneos,
que acabam na prostituição,
em subempregos no Rio
ou São
Paulo ou indo devastar
a Amazônia na luta pela
sobrevivência.
Decorrente desta corrupção
generalizada, a criminalidade cresceu nos centros urbanos onde o contrabando, tráfico
de drogas e uso
de armas militares
contaminam a sociedade e o poder
político, arrombando até as portas
dos Tribunais Superiores.
Enquanto
inocentes são
vítimas de uma violência
generalizada que impera em nosso país, o Ministro
da Defesa, Nelson Jobim, fica
burocraticamente olhando os aviões que caem, o Ministro
da Justiça, Tarso
Genro, ainda
tenta manter
uma pose de grande
jurista apenas
dando declarações vazias para
esconder a sua
incompetência e o Secretário
Nacional de Segurança
Pública, Antonio Biscaia, continua
desaparecido para não
prejudicar o seu
empreguinho. Mas,
no Rio de Janeiro
temos muita ação. O Governador
Sérgio Cabral faz um marketing da
violência com
sua “política
de enfrentamento” que
consiste em dar
uns tiros nas comunidades
carentes, de acordo
com aquela máxima
fascista de que
todo pobre
é ladrão até
provar o contrário. Este governador até hoje não
apresentou um plano
para resolver a crescente violência
sob a sua
administração e ainda
fica devendo uma explicação de qual a diferença
entre meia
corrupção e meia
honestidade, já
que a contravenção
corre solta em
seu Estado.
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Notícia
3 - Publicada no Correio da Manhã, 10 de dezembro
de 1968
O fato
mais bárbaro
e violento que
presenciamos nestes dias, mostrando que a nossa sociedade ainda está em níveis primitivos na questão de direitos humanos,
foi a prisão de uma jovem
de quinze anos em
uma cela masculina,
no Município Paraense
de Abaetetuba. A jovem
foi mandada para
o seu martírio
por uma mulher,
a Delegada Flávia Verônica
e foi mantida em seu
estado de sofrimento pela juíza
Clarisse Maria de Andrade que teve conhecimento do caso
e não tomou nenhuma providência. Isto tudo em um Estado
governado por uma mulher,
Ana Julia Carepa, do PT, e que tem também como Secretário
de Segurança Pública
outra mulher,
Vera Lúcia Tavares. Em nota oficial
estas autoridades confessam indiretamente que
tinham conhecimento deste caso bem como de outros que afloraram, já
que declararam que
no início deste governo
petista o Pará contava com 132 municípios
com delegacias,
das quais apenas
seis com
celas especiais
para mulheres
e que no atual
governo construíram e reformaram somente onze delegacias
com celas
femininas. Para
agravar a desídia
destas autoridades, enquanto
a menina L.A.B., de quinze anos, com um metro e meio de altura
e pesando trinta e cinco quilos, era
mantida presa, estuprada, torturada e queimada com pontas de cigarros
em uma fétida
prisão paraense,
a governadora petista do Pará, Ana Julia Carepa, divertia-se em
Brasília em uma festa
amazonense patrocinada com recursos públicos, balançando o seu
traseiro – cultivado com muita mordomia –, dançando o carimbó
com o representante da Igreja Universal no governo Lula, o
Vice-Presidente José Alencar – em uma espécie de reedição
da dança da pizza
da deputada Ângela Guadagnin ao comemorar a impunidade
de um colega
petista por ocasião
do episódio do “valerioduto” no ano passado. Para completar este quadro de total
descaso pelo
sofrimento humano a Ministra
Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres,
apenas queixou-se da “triste coincidência”
do caso da menina
torturada com a festa
promovida pela sua
administração, no Canecão, na cidade do Rio de Janeiro, com a realização do show
“Por uma vida
sem violência”,
com a participação de vários cantores
famosos, tudo
pago com
o dinheiro público. Para agravar mais ainda este quadro criminoso,
o Ministro da Justiça
Tarso Genro,
do alto de seu
pedestal jurídico,
declarou: Todos nós nos sentimos violentados e agredidos, mas lamentavelmente este
tipo de violação
de direitos humanos
no Brasil não é incomum,
o que em
bom português
significa dizer, isto não é comigo.
Este
caso leva-nos a duas reflexões: a primeira
é que uma maior
participação feminina no poder
melhoraria a sociedade brasileira. Este mito foi desfeito,
já que
o presente caso
revela um time
de mulheres totalmente
complacentes e insensíveis
com a tortura. Outro ponto importante é que a impunidade
de Lula, com
essa história de afirmar
que nunca
sabe de nada, é uma chaga
que deve ser
combatida em nossa
sociedade, já
que um
Presidente da República
não pode desconhecer
crimes em
sua administração,
assim como
a Governadora, a Secretária de Segurança, a Juíza e a
Delegada do Estado
do Pará e os Ministros
que não
conseguem resolver problemas
com responsabilidade,
devem ser punidos e afastados. Portanto,
devemos exigir uma punição
severa para
estas autoridades que
parecem zombar dos preceitos
mínimos de civilização.
Afinal
as nossas leis são
apenas decorativas ou
para valer?
Rio de
Janeiro, 27 de novembro
de 2007.
Teócrito
Abritta