Carlos Drummond de Andrade
JAMES
MITCHELL, ministro do Trabalho
Em
Washington, D.C., e homem sério,
notou
o contra-senso:
para
o trabalho havia um Ministério
com
toda cibernética montagem;
para
trabalhadores, não havia
trabalho.
Ora,
Mitchell sentiu-se no dever
de
dar emprego a quem não tinha mas queria
trabalho.
E
garantiu que, vindo outubro, com ele vinha
trabalho
tanto e em tal variedade
que
seria trabalhoso e mesmo vão
evitar
trabalho.
E
tão seguro estava do milagre
que
prometeu de pedra e cal
comer
de aba e copa o seu chapéu
(dele
Mitchell, ministro do Trabalho)
se
algum trabalhador ficasse ao léu.
Eis
que outubro apontou, e bem contadas
as
filas de chômeurs, verificou-se
que
3.200.000 pessoas
estavam sem trabalho
(40.000
a mais do que em setembro).
Mitchell
não teve dúvida em cumprir
o
seu enchapelado compromisso,
mas
como tudo é chapéu, e o caso omisso,
mandou fazer
um
de chocolate e nozes e comeu-o
no
hall do Ministério do Trabalho,
com
o quê, teve bastante
trabalho
mastigatório.
No
Brasil, se os governantes resolvessem
comer
chapéu ao falhar uma promessa
–
de carne, de feijão, de água à beça
e
outras metas maiores e menores –
todos
os brasileiros passariam
a ter trabalho, e muito,
no ramo confeiteiro,
mas
não havia chocolate que chegasse
e nem tampouco nozes
para
chapéu de bolo no ano inteiro.
Copa 1970, com o ditador Médice usando o futebol com finalidades políticas.
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