No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O INCÊNDIO DO TEATRO VILLA-LOBOS

O incêndio do Teatro Villa-Lobos mostra não só o requinte na depredação e devastação de recursos públicos
como a "desimportância" da Cultura para governos populistas que se apoiam no voto Tiririca de seus "Pezões" e "Lindinhos" da vida. Devemos sempre lembrar os "malfeitos" desta turma - usanda as palavras de Dilma para disfarçar a corrupção . Isto fazemos, republicando este artigo que saiu no Montbläat em março de 2009.

Musas e Harpias

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro está completando cem anos, sendo um dos sobreviventes da monumental arquitetura eclética da antiga Avenida Central que resiste bravamente à penúria cultural que vivemos, juntamente com os prédios da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes.
Durante estes longos anos as três Musas que adornam os vitrais centrais deste teatro – representando a música, as artes cênicas e a dança – registraram, com seus olhos, grandes óperas, balés, concertos e grandes personalidades como Rastropovitch, Claudio Arrau, Magda Tagliaferro e Maurice Béjart.
Elas são testemunhas não só de grandes glórias, como de grandes humilhações contra a cidade do Rio de Janeiro e seu povo. Por seus olhos passou a marcha dos gaúchos em direção ao obelisco no final desta avenida, onde amarraram seus cavalos. Assistiram golpes de estado, massacres de populares por forças repressivas, manifestações democráticas e festas carnavalescas. Hoje a humilhação subiu pelos vitrais, limitando a visão destas Musas de um lado por um teatro saqueado e fechado há meses. Do outro lado contemplam a histórica Cinelândia transformada em estacionamento dos vereadores, parentes, amigos e agregados que rapinam os cofres públicos, como mostrado na fotografia abaixo.




A visão das Musas: um lugar histórico como a Cinelândia, transformada em estacionamento.



Por várias ocasiões o Teatro Municipal sofreu reformas completas, mas sempre em funcionamento. Durante as épocas de temporada, as intervenções eram feitas no teto, nas partes exteriores e os bastidores eram reformados de modo a não interromper treinos e outras atividades de apoio. Durante o recesso de verão – de meados de dezembro a fevereiro – todo interior era reformado com troca de estofamentos e tapetes, consertos de banheiros e elevadores. O pano de boca já foi retirado, totalmente restaurado e o sistema de iluminação já foi totalmente trocado e modernizado.
Hoje os tempos são outros e cultura é uma mercadoria secundária no reino do populismo e busca do voto fácil. Na visão do atual governador, Sérgio Cabral, atividade cultural limita-se a ser fotografado junto de sua Secretária de Cultura, Adriana Rattes, no máximo saudada na imprensa como um rostinho bonito no governo. Secundando a tragédia, foi nomeada uma artista para diretora deste teatro, já que dentro do marketing político isto cria uma face simpática à administração que é direcionada a um público entorpecido pelas baixarias televisivas.
Devemos também lembrar que a Prefeitura desta cidade é um apêndice do governo estadual, sendo dirigida por uma espécie de marionete de Sérgio Cabral que sempre generosamente abriga os aliados de Lula cassados pelo voto popular. A Secretaria Municipal de Cultura foi simplesmente loteada para o PCdoB que a transformou em uma máquina eleitoral.
Esta história toda lembra o conto “O Espartilho” de Lygia Fagundes Telles, onde a patroa passa a trancar uma estante onde ficavam os dicionários e livros – preocupada com a mania da empregada de consultar o Pai-dos-Burros –, dizendo:
“Essa menina já está parecendo uma intelectual. Quanto mais souber, mais infeliz será.”
Para aqueles “esquecidos” que hoje aplaudem Collor como o novo aliado de Lula, deixo abaixo registrado alguns fatos bem concretos que atestam a política cultural de terra arrasada comandada por figuras femininas, verdadeiras harpias que destronaram as musas do Municipal. Tentarei resumir para não parecer um relatório administrativo a ser carimbado como: Arquive-se por um destes tribunais de contas ou faz de conta.

- Teatro Municipal: foi fechado no início de novembro de 2007 e reaberto somente em abril de 2008, para ter suas atividades definitivamente encerradas no final de outubro de 2008. Durante os breves períodos de funcionamento, totalmente abandonado, foi saqueado (ver, por exemplo, O Governador Troca-Palavra, Montbläat 285, 18 de abril de 2008), o público foi maltratado com banheiros interditados ou exalando uma fedentina insuportável, corredores escuros, tudo isto temperado por sórdidos barzinhos que serviam um café com gosto intragável.
- Orquestra Sinfônica Brasileira: montou toda sua programação anual com concertos no primeiro semestre de 2009 na Sala Cecília Meireles e no segundo semestre no Teatro Municipal contando com a sua abertura no dia 14 de julho, conforme as caríssimas propagandas do governo estadual na televisão e páginas inteiras da imprensa. Com a notícia de que o teatro ficará fechado pelo menos até novembro, alguns já falando em março de 2010, ocorreu um fato inédito na história desta orquestra, que teve de devolver vergonhosamente o dinheiro pago por seus assinantes para os espetáculos sabotados pelas harpias de nossa cultura. Algumas companhias de balé, contratadas pela Dell’ Arte estão sem local de apresentação.
- Museu da Imagem e do Som: enquanto falta verba para tudo, o governo do estado desapropriou o imóvel da boate Help em Copacabana para instalar uma nova sede do Museu da Imagem e do Som (MIS) – devemos lembrar que esta instituição já funciona em dois prédios históricos no centro do Rio de Janeiro. Este é um exemplo típico de outro aspecto de nossas aberrações políticas onde “Centro Cultural” significa apenas mais um local para abrigar amigos em presidências, diretorias, subdiretorias e coordenadorias, tal como no Senado Federal. No caso em questão, este novo museu terá uma linda vista e quem sabe não poderá servir para aquele famoso ministro aposentado de um destes tribunais de contas, Sergio Cabral, o pai, reunir os líderes “comunitários” para aquelas famosas feijoadas, que em geral coincidem com a proximidade de eleições.
- Museu Antonio Parreiras: aqui apenas deixo o registro de que boa parte da obra de Oswaldo Goeldi, inclusive suas chapas originais, apodrece em úmidos porões deste centro cultural totalmente abandonado em Niterói.
- Exposição Frida Kahlo é cancelada no Brasil: uma fabulosa exposição de obras desta pintora mexicana, após percorrer dezenas de cidades americanas em um ano e meio, chegando em Santiago, no Chile, teve a sua viagem interrompida, regressando ao México. Estavam planejadas exibições em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, mas acabou sendo cancelada com uma desculpa esfarrapada de “efeito da crise”. São Paulo ainda não desistiu de apresentar esta exposição, mas para o Rio e Brasília o que vale é a frase mencionada, da patroa do conto de Lygia Fagundes Telles.
- Cultura municipal: sobre este item não temos muito que falar diante de sua pobreza. Sugiro que o leitor visite alguns “aparelhos” culturais, iniciando por aqueles situados em algumas áreas mais nobres da cidade, como, por exemplo, o Castelinho do Flamengo e o Centro Cultural Sérgio Porto no Humaitá. Se tiverem sorte de acertar a hora do expediente, como no O Processo de Kafka, serão recebidos pelo guarda da portaria – o único funcionário normalmente presente, que o levará para um solitário e depressivo tour pela vanguarda da arte revolucionária.
Não podemos terminar este nosso texto-protesto-registro, sem dar o “nome dos bois”:
- Secretária Estadual de Cultura do Estado do Rio de Janeiro: Adriana Rattes.
- Diretora do Teatro Municipal do Estado do Rio de Janeiro: Carla Camurati.
- Secretária Municipal de Cultura do Rio de Janeiro: Jandira Feghali.

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