Se Miranda fosse vivo, já estaria estrilando. Espumando.
A
Dita Dura:
Ele conhecia tudo – de válvulas eletrônicas a radares. Não era à toa que trabalhava como técnico
civil da Aeronáutica há tantos anos.
Acabou convocado, junto com dois coronéis, para a comissão de seleção
técnica do radar a ser instalado no aeroporto de Brasília.
Não somos palhaços, declarou Miranda, com a discreta aquiescência
dos coronéis. Se vocês querem o único
radar que não serve, para que a comissão?
Onde já se viu um radar para navios em um aeroporto?
Miranda estragou a solenidade do Brigadeiro e ofendeu os
vendedores de radares.
Os coronéis saíram presos.
A Miranda, preferiram calar-lhe a língua, transferindo-o para a chefia
do depósito de sucatas em Jacareacanga.
A
Senadora:
Quatro anos defendendo o indefensável. Rasgando a ética e as leis. Solidariedade política é assim. Mas o povinho safado não a reelegeu. Se não tivesse um considerável pé de meia,
diríamos que ficou com uma mão na frente, outra atrás. Mas acabou presenteada com um ministério
faz-de-conta: "Você será poderosa.
Distribuirá verbas, favores e até fervores. Quem sabe não arranjará namorado?"
O
Corneteiro:
Assim, a leal companheira arranjou um sargento corneteiro do
Exército. Mas, quem toca pra senadora,
tem que ter prestígio governamental, institucional. E lá foi o corneteiro, nomeado para escolher o
sistema de defesa antiaéreo brasileiro.
A
Comissão:
Após duas semanas na Rússia, comendo caviar e muita vodca
para espantar o frio, proferiram o resultado.
Desta vez não foram unânimes. O corneteiro escolheu o foguete
Pantsir-S1, três vezes mais caro do que os modelos escolhidos pelos demais
membros da comissão, o que foi de grande agrado do Ministro da Defesa, em nome
dos bons negócios neste mundo capitalista reverso.
Posfácio:
Afinal, corneta de senadora fala mais alto.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
E não me venham com histórias. Aqui se trata de crônica perversamente
literária, sem nenhuma relação com o real.
Que culpa teremos, se a realidade invade a imaginação
ficcional?
Hoje, Dilma "promoveu" Ideli a "Secretária de Direitos Humanos", para fazer exatamente o que sua antecessora, Maria do Rosário, fazia. Ou seja, nada! Apenas faturar dinheiro público.